quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Cervejas em Paris

Os dias mais friozinhos do outono em Paris chegaram e a gente vai sentindo isso nas bebidas. Estamos tomando mais café, já tomamos até chocolate quente e a Ju...bem, ela segue tomando chimarrão. Mas a maior mudança tem sido reintroduzir o vinho nos nossos hábitos, deixando de lado a boa e velha cervejinha.

A própria Juliane descobriu que tem vinhos franceses que ela consegue tolerar. Se bobear, até curtir! É o caso dos vinhos do sudeste da França, em especial os de regiões mais mediterrâneas (como o Languedoc, Roussillon e até mesmo a ilha de Córsega). Ela não curtiu muito os Bordeaux (que são lá do sudoeste) e também não deu muita bola para o Bourgogne (que fica na parte mais leste). Aqui os vinhos são definidos pela região e geralmente dependem de alguma mistura de uvas, sendo mais raro tomar Cabernet, Merlot, Malbec, entre outros. Geralmente os vinhos que usam um tipo de uva só são mais meia boca, então é melhor se arriscar com as misturas mesmo.

E eu? Bom, como os amigos Pablo e Muriel lembram, eu sou mais da cerveja. E a vida de um cervejeiro em Paris não é de todo mal, mesmo que as más línguas me acusem de desperdício por não aproveitar os vinhos franceses.

Primeira coisa boa que a gente tem sobre a cerveja aqui é que ela é razoavelmente barata e tem boa qualidade. Uma marca como a Kronenberg, que é a mais famosa daqui, apresenta duas cervejas: a própria "Kronen" e a "1664", popularmente conhecida como "seize" (se lê "çézi"). A 1664 é mais cara, mas mais gostosa. Lembra bastante a Original, mas mais "gasosa", se é que isso é atributo de cerveja. Cerca de 10 garrafinhas de 250ml (ou 25cl como eles chamam aqui) sai por mais ou menos 7 euros (ou 21 reais). Sai mais ou menos a mesma coisa que comprar 5 Originais no Zaffari. A Kronen, por sua vez, é a que sai mais em conta, com a mesma quantidade de garrafinhas saindo por 5 euros. É a nossa preferida, porque sabe como é a contenção de gastos, né?

Uma massa e uma "çézi"

A segunda coisa boa que eu poderia apontar é a variedade. Assim como o Brasil dos últimos dez anos passou a ter estantes de cerveja cada vez mais completas no supermercado, aqui na França não é diferente. No super perto de casa chegamos a encontrar a Colorado, cerveja produzida em Ribeirão Preto! Eu não sou um grande fã dessa cerveja, mas como todo o brasileiro, me escorre uma lágrima de saudade sempre que a gente vê algo made in Brazil (bem, nem sempre...). Assim, temos à nossa disposição algumas cervejas belgas (paraíso da ceva), tchecas (nirvana da ceva) e alemãs (valhalla das cevas). E tem também americanas (Bud), portuguesas (SuperBock) e etc. As francesas acabam sendo a nossa opção mais frequente, porque o preço é mais em conta. Mas vez ou outra a gente dá uma olhada nas demais.

A terceira coisa é o formato da dona cerveja. Como eu disse antes, as garrafinhas de cerveja vem em formato de 25cl. Se quiser, dá para levar para casa as de 70cl. Mas aí elas já não são tão baratas e correm o risco de esquentar rápido. No final das contas, o modelo long neck é mais barato e uma alternativa praticamente adotada por todo mundo. Tem também latinhas de diferentes tamanhos (25, 33 e 50cl), mas aqui em casa a long neck é a mais pedida. E com a vantagem de que elas gelam mais rápido, é claro.

Pint de Stella - 4 euros perto de casa

A quarta coisa é para aqueles, como eu, que preferem tomar uma cervejinha na rua do que em casa. Isso é um tanto quanto desolador, gente...mas não tem cerveja barata nas ruas de Paris. Eventualmente saímos para ir nos bares mais descolados e chinelões da cidade (11éme) e o modelo mais comum de ceva aqui é o pint (ou a pression), como eles chamam o nosso adorado "chope". O deles é menos gasoso e tem menos espuma no geral. Não é ruim, pois depende da cerveja. Algumas são ótimas - tem um barzinho no 11éme que tem chope de Delirium por 5 euros no happy hour. Já outras são terríveis - tomamos um no Marais, em setembro, que custava 3 euros mas era horrível. Acho que era Lyonnaise o nome da dita cuja. A medida do pint varia aqui, sendo na maioria das vezes copos de 45 ou 50cl. Os preços podem variar conforme o local, mas se você está pagando mais de 5 euros o seu pint em Paris, tá pagando caro.

Une pint, svp

Outra característica da vida "cervejística" em Paris é que os bares tem happy hour. Com isso, há um horário mais adequado para tomar sua cervejinha e que não fica muito tarde. Paris, como a nossa excelentíssima Porto Alegre, não tem mais bares abertos depois da 0h. É possível ainda encontrar alguns bares abertos depois da 1h, mas são raros e somente ficam abertos no final de semana.

De resto, para quem gosta de vinho e comete a heresia de preferir cerveja (tipo eu), Paris dá opções aceitáveis. Não são baratas, claro, mas dá para o nosso bolso. A única coisa que faz falta é o pé sujo mesmo. Boteco aqui não é que nem no Brasil. E esse hábito bem brasileiro de descer ceva com uma mesa cheia de gente não parece ter aqui. Cada um pede sua pint e fica ali, de boa, sendo blasé. Se em terra brasilis a zueira geralmente pede cerveja, aqui em Paris a falta de zueira mostra exatamente porque eles preferem vinho. 

2 comentários:

  1. Também gosto de beber cerveja na rua, e concordo que falta "zueira" em Paris. Mas até que o Aux Folies e o The Wall (na Moufettard) supriam um pouco essa necessidade de boteco. Interessante que não levei muito tempo também pra escolher a "cézi" como minha favorita. Bebi bastante Leffe e Chimay, mas a cervejinha nossa de cada dia era a 1664 mesmo!

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    1. A gente bebeu Chimay Blue em Bruxelas e adorou (e agora apareceu no nosso Monoprix também). A Leffe cometemos o erro de comprar a Rubi certa feita, nunca mais consegui beber Leffe de novo... (é horrivel!). O Aux Follies e alguns bares no 11eme tem essa pegada de boteco mesmo, mas o The Wall a gente não conhece a já anotou aqui :)

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