sábado, 3 de janeiro de 2015

Nós sempre teremos Paris

Num aeroporto no Marrocos, numa noite chuvosa, Rick Blaine lembra Ilsa Lund, ao ajudá-la a fugir do domínio nazista no território controlado pela República de Vichy. Rick e Ilsa se amaram em Paris, mas então veio a guerra e eles seguiram caminhos separados. Ele, montou um bar em Marrocos; ela casou com um líder da resistência anti-nazista tcheca. Caminhos separados que se reencontram. E, ainda assim, eles não podem mais se unir. Mas Rick é quem lembra: "nós sempre teremos Paris". Mesmo que nossos caminhos se separem, Paris - e todas as lembranças que vêm junto - estará sempre ali, em nossa memória.


Essa cena antológica do filme Casablanca serve para a gente poder se despedir de Paris e também do blog. Foram 4 meses muito intensos, onde o tempo praticamente se arrastou e voou com a mesma força. 2014 foi um ano muito emocionante, cheio de grandes momentos e com tanta coisa nova acontecendo que parece até que foram 5 anos dentro de um só. E nesses primeiros dias de 2015, quando faremos nosso retorno ao Brasil, deixamos o blog já um pouco cansados, mas felizes sempre que relemos os textos. Foram postagens sempre focadas nas nossas impressões e tentamos fazer disso um projeto diário, para não perdermos nada - mesmo quando não tinha nada para falar. Era também um projeto político: a zueira era a nossa referência para não se deixar deslumbrar, para não cairmos naquela máxima de "só no Brasil", para não pensarmos a Europa rica e luxuriosa sem a contrapartida de sua riqueza, que somos nós, os latino-americanos, os imigrantes, os africanos, os asiáticos...o blog também foi um experimento político, não esqueçam disso.

Por conta disso, pode parecer um pouco triste afirmar que este é o nosso último texto mesmo. Algumas estatísticas do blog são muito significativas para nós: foram 123 postagens e 8.364 visualizações de página. Alguns posts chegaram a mais de 150 visualizações, mostrando que muitos dos nossos amigos e familiares curtiram. E não só eles: gente que nem conhecíamos também passou a visitar o blog, pegando dicas, ou simplesmente concordando com algumas das nossas colocações. Porém, ele não foi feito para só para dar dicas, ou só para ficar se vangloriando. O nosso objetivo era ter um espaço virtual para colocar as nossas impressões e dividir elas com as pessoas, tentando com isso manter uma ponte de contato com o Brasil. Logo, ao retornar para o Brasil, essa ponte fica de lado temporariamente.

Temporariamente, claro, porque ninguém sabe o dia de amanhã. Vai que podemos precisar restabelecer pontes com o Brasil, né? Mas é isso, até segunda ordem, interrompemos a nossa saga com a certeza de que fomos felizes. E é por isso que escrevemos: para conseguir processar e lidar com esses sentimentos e experiências. Foi na escrita que nos encontramos com os amigos, que dividimos as alegrias e as surpresas de uma terra que nem sempre foi perfeita, mas sempre foi Paris, Barcelona, Bruxelas, Berlim, Cracóvia, Roma, Girona e Praga. E, no meio de tudo isso, os amigos que vimos por aqui e que fizemos aqui. A eles, todo o agradecimento que houver nesse mundo.

E é isso, gente. O blog segue aberto, quem sabe outros viajantes pelo mundo a fora se identificam, compartilham impressões...quem sabe, quem sabe...

Só sei que teremos Paris. Toujours

A bientôt.
Ju e Fe

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

A Saga do Louvre - parte 3

Falta pouco pra gente retornar para o Brasil, então hoje tentamos programar dois passeios: ir ao Louvre (pela terceira vez) e tomar uma cerveja nas nossas zonas preferidas. A missão foi cumprida, claro, então trata-se de escrever um pouquinho sobre a nossa última ida ao museu.



É verdade que eu e a Ju gostamos muito de ir em museus. Aqui na Europa tivemos excelentes passeios na maioria das vezes, mas tivemos experiências ruins também. A quantidade de museus em Paris fez com que demorássemos bastante para programar as visitas ao Louvre, mas quando finalmente aconteceu, valeu a pena. E a nossa segunda ida também foi boa. Mas e essa terceira, que foi a última? Que tal foi? Temos algo novo a dizer?

Bem, em parte, sim. Faltava ainda para nós dois andares inteiros. E queríamos tentar ver tudo, mas...infelizmente, não foi possível. De fato, curtir o Louvre inteiro é uma tarefa para 5, 6 dias, dependendo do fôlego. E acreditamos que isso se dá por dois motivos: o tamanho colossal do museu e o fato dos acervos serem um pouco repetitivos e com pouca interação. Uma regra que aprendemos aqui é que nem sempre "mais" é igual a "melhor". O Louvre tem, de fato, um acervo gigantesco e foi o maior museu que já vimos na vida. Mas se me perguntarem se é o melhor...bem, aí fico meio hesitante...

Em relação aos museus europeus, o Louvre tem um dos melhores preços: 12 euros a entrada e gratuidade para qualquer um abaixo de 18 anos (e estudantes até 26 não pagam também). Para quem vem do Brasil, onde cobrar por museus não é um hábito, achamos ruim. Mas dada a nossa experiência com outros museus europeus, 12 euros é um bom preço dado o tamanho da estrutura.

Mas e as obras??? Bom, quanto à parte de acervo histórico eu sou suspeito. Achei incrível mesmo, algo fora de série poder ver maravilhas como o Código de Hamurábi, hipopótamos azuis e uma múmia egípcia, a Vênus de Milo, cerâmica islâmica, entre tantas outras coisas que estavam no meu imaginário por conta de filmes e livros. Contudo, hoje fomos visitar a parte de arte. E toda a parte de Renascimento italiano é interessante, mas muito cansativa. Isso porque os quadros não estão situados em movimentos estéticos, o que torna a compreensão deles pouco didática. É como se eles fossem enfileirados em ordem, sem muitas explicações acerca deles. Isso é muito comum, claro, mas dado o tamanho do acervo, as coisas ficam cansativas.



Algumas coisas beiram o nível do surreal. Ver a Mona Lisa, por exemplo, foi um exercício de paciência. Em dado momento, desisti de tirar uma foto dela e resolvi tirar fotos das pessoas tirando fotos dela...porque, convenhamos, aí meu lado antropólogo falou mais alto.



Já outras dão uma certa tristeza...por exemplo, a parte de pinturas da região dos Flanders, na Bélgica, é bastante cansativa e não tem nenhuma explicação. Puxa, era um dos centros do Renascimento...podia ter uma problematização maior, né?



E outras...bom, outras valem cada suspiro dado nessa vida. E aqui eu me refiro à obra de Delacroix, A liberdade guiando o povo. Eu quase chorei ao ver essa, mas isso porque achávamos que ela não estava mais em Paris - em outubro a Ju tinha visto que ela tinha ido para Lyon, numa exposição itinerante das obras do Louvre pela França. E esse é o tipo de situação que vale o ingresso: quando você menos espera, algo que você já viu em algum momento da vida aparece ali, diante dos teus olhos. Não é livro, não é reprodução. E só por isso eu já diria para vocês: o Louvre vale ser visto, sim!



Mas é bom salientar...essa última etapa da nossa saga nos fez pensar que o museu tem como peculiaridade tentar juntar um pouquinho de tudo da História da humanidade (a partir de uma perspectiva eurocêntrica, claro). Isso é bom, mas nessa parte de arte sentimos que era tão grandiosa a pretensão que muita coisa ficou para trás. E para ver arte do século XIX em Paris, o Museu de Orsay e a Orangerie são as opções. Para ver arte moderna, do século XX em diante, tem que ver o Pompidou. E por aí vai. O Louvre tenta falar de tudo e de tudo com propriedade. Nem sempre consegue, o que torna ele muitas vezes cansativo ("a gente já não viu esses quadros?"). Mas no final das contas, a saga mesmo foi ter feito a visita, ter enchido os olhos de lágrimas e a mente e o coração de memórias.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Bonne Année

Ontem e hoje foram dias de comemorações por todos os cantos, aí, aqui e acolá. Aqui nas Oropa, tivemos a sorte de termos os últimos dias bem claros e ensolarados, com temperaturas "aguentáveis" para ficar na rua e aproveitar a cidade. Se no Natal Paris deu uma esvaziada, depois dele a cidade lotou! Metrôs, supermercados, pontos turísticos: tudo cheio de gente pronta para comemorar a "virada" na cidade.

O problema, até então, é que Paris não tem muita tradição de festas de ano novo ao ar livre com queima de fogos e todas essas coisas que estamos acostumados no Brasil (e em vários outros lugares do mundo). Parece que o pessoal não comemora muito a data por aqui, pelo menos não como a gente por aí. Alguns vão para a Torre, outros vão para a Champs, mas só vão mesmo, não há nada lá. Mas esse ano algumas coisas mudaram: parece que fazia 15 anos que a cidade não tinha queima de fogos no ano novo e que essa teria sido uma das promessas da prefeita Anne Hidalgo (do PS) durante a campanha. Madame Hidalgo ganhou e cumpriu a promessa: um rendez-vous foi marcado para às 23:30 na Champs Elysées, onde haveria queima de fogos e projeções no Arco do Triunfo. A rua foi então fechada, disponível somente para pedestres e o metrô estava liberado das 17h até o 12h do dia seguinte (algumas linhas funcionavam até 2:15 e outras mais centrais 24 horas).

Assim, logo depois da nossa "ceia" (deliciosos salgadinhos do Picard), partimos em direção à avenida, com metrô liberado e com uma temperatura agradável para os padrões do inverno europeu: ou seja, uns 6 graus. Descemos na Place de La Concorde, fim da avenida, e seguimos até o Arco, acompanhando a movimentação e a marcha mais ou menos silenciosa (não tinha música, gente!) da multidão. No caminho, algumas barraquinhas de kebab, outras de espumante, outras de cerveja. Muitos turistas, de todas as idades (vimos muitas crianças), e muitos franceses também.



O espetáculo de "video-morphing", como eles chamaram, começou às 23:50 e projetou vários pontos turísticos de Paris direto no Arco, fazendo aquela narrativa tipicamente parisiense - que é uma mistura de "como sou foda" com um narizinho de cheira-peido. Mas ainda assim, foi lindo e emocionante, gente!

Mas há uma crítica: muito curto! Comentamos isso entre nós, falando das queimas de fogos no Brasil e juro para vocês que ouvi outros brasileiros falando a mesma coisa. "Foi bonito, mas foi curto" é o veredito tupiniquim. Se alguém está procurando emprego em Paris, diria que esse é um bom investimento, eles têm muito a aprender com a gente.

Para os amantes da cidade luz, recomendo fortemente ver os vídeos abaixo. O primeiro é uns trechos da projeção de vídeo e o segundo é a queima de fogos completa e em ótima resolução, no site da cidade.



Já o vídeo completo e em ótima resolução, pode ser visto aqui.

Joyeuse Année à Tous et à Toutes! Et merci, Paris! ;)