sexta-feira, 17 de outubro de 2014

A saga do Louvre - parte I (bis)

Primeiro, uma explicação, o título do post: sendo uma continuação do post de ontem, por que ele não poderia se chamar "A saga do Louvre - parte II"? Bem, porque esse provavelmente será o título do post após a nossa segunda visita ao Louvre. Mas então por que "bis"? Essa é uma singela homenagem aos nossos anfitriões, os franceses, que, ao colocar o mesmo número em dois prédios (?), colocam o simpático "bis" para poder diferenciá-los. Assim, você pode morar no "48bis, Rue Vaugirard" (aqui o número vem primeiro), sendo vizinh@ do "48, Rue Vaugirard". Esses franceses são muito engenhosos...(contém ironia).

Segundo, aceitamos que esse monte de museu lin-do é na maioria fruto do imperialismo francês, respiramos fundo, fazemos a crítica e... aproveitamos.

Dito isso, vamos ao que interessa: o texto de hoje. Ontem, o Fernando já narrou a nossa primeira visita ao Louvre, e concordo 100% com o que foi dito, principalmente sobre a parte do Egito e sobre o código de Hamurabi. Para quem, como eu, foi “educad@” vendo Chapolin Colorado ver sarcófagos e uma mumiazinha simpática é um reencontro com a infância e quase uma blasfêmia histórica, mas é impossível não lembrar e rolar uma emoção, nesse caso não só pelo Chapolin, né, gente.

Mas se eu tivesse que apontar o que mais me chamou atenção no andar 0 do Louvre não seria nenhuma obra grandiosa. Foram os egípcios, que na singeleza de um hipopótamo azul, me ensinaram um monte de coisas ontem:

Hippopotame 1.400 a.C

Primeiro, era um hipopótamo decorativo datado de 1400 a.C., isso por si só é algo que muda as noções de temporalidade (algo já pressentido fortemente em outros museus, claro). Segundo, ele era azul-turquesa! Quando falamos dessas coleções do mundo antigo, elas geralmente não tem nenhum cor vibrante em função do desgaste do tempo, das oxidações, etc. e tal. Mas esse azul-turquesa ao longo da sessão de Egito me encantou de cara. E por quê? Por uma curiosidade muito simples: por que a cor ainda está lá? Assim, fui (fomos, porque o Fernando acabou entrando na minha onde de: olha, mais um azul-turquesa!) catando outros objetos da mesma cor que fomos encontrando. E não foram poucos, tanto na sessão de Egito quanto na dos Persas:








Andarilhando, descobrimos que o "azul-verde" se dava em função do "silicato de cobre" (isso tudo estava explicadinho lá em um papelzinho). Imaginamos então, a letrada e o historiador, que o Sr. Silicato era o responsável pela cor e que ele era bastante resistente, afinal, é qualquer coisa de 3000 anos entre nós e eles. Ainda encafifada com a beleza da coloração, descobri hoje, com a ajuda do Google e do Fernando, que essa coloração se chama "Azul Egípcio", uma combinação do seu Silicato com seu Cálcio, considerado o primeiro pigmento sintético. Regozijai, químicos do mundo!

Alguém pode dizer: mas porque diabos ela acha que isso é importante? Isso não serve para nada, e se é para ver alguma coisa em museu que seja um desses famosos aí. Cadê a Mona Lisa? A Vênus de Milo? Bem, primeiro, é a prova de que a beleza do Louvre está também nos detalhes. O hipopótamozinho deles era uma coisinha de nada. Uma coisinha azul de nada. Uma coisinha azul de nada num monte de coisas de milênios atrás.

Segundo é que ao me deparar com aquele objeto, eu aprendi e refleti sobre uma penca de coisas. Imaginar que alguém fez isso, simples assim, lindo, há 3000 anos, bem, é educativo sobre o nosso estar no mundo ("eu não sou nada, nunca serei nada", já disse Álvaro de Campos, e isso é lindo). E ao mesmo tempo, ó que coisa legal - isso foi feito por mãos humanas. É o estar no mundo ao mesmo tempo que estou aqui há muito tempo.

Aí tem toda essa coisa de olhar para o passado que (ao contrário do que o debate despolitizado das eleições no RS e no Brasil vem dizendo!) é um exercício desse estar no mundo mas também de se responsabilizar por ele. De repente é como se aquele hipopótamozinho azul fosse uma forma de pensar que a preservação do passado não precisa ser um ato grandioso. Ele só precisa ser uma maneira de agir sobre o mundo em que vivemos.

Para completar, eu ainda tive uma aula de História e Química ao mesmo tempo! É muita interdisciplinariedade, gente!

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