segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Pelos trilhos do metrô de Paris

Quando chegamos em Paris, eu e a Juliane ficamos encantados com o metrô. Não é vira-latismo, não, gente, mas é que o troço é incrível mesmo. A gente em Porto Alegre discute bastante (e sofre bastante) os problemas de mobilidade urbana que temos numa cidade que tá longe de ser grande. Os amigos de São Paulo e Rio de Janeiro, que têm metrô a disposição, reclamam também. Superlotação, aumento abusivo de preços, formação de cartéis, corrupção nas licitações, enfim...a gente vem de uma terra onde cada vez mais se adota o modelo americano de transporte (ou seja, privado e focado na indústria de automóveis) e cada vez menos se olha para modelos de mobilidade urbana pública - e aqui dá para citar uma porrada de exemplos antes mesmo de falar de Paris, com suas bicicletas e carros para alugar, ou seu transporte público de qualidade, pontual e que atinge as principais linhas urbanas.

Porém...o metrô de Paris também tem seus percalços. Mas acreditem: eles são bem diferentes do que estamos acostumados no Brasil - quer dizer, mais ou menos.

1) Fedor: Fedor é um problema que já estamos habituados em Paris. Sabemos que muitos dos parisienses não compartilham das noções de higiene de nós selvagens. Mas uma ida ao metrô em certos horários é uma tensão olfativa. Primeiro, porque nas galerias é possível sentir um cheiro de urina muito forte em várias estações. O tradicional xixi matutino, que não pode esperar para ir até o banheiro...pois é, ele tá ali, em algum lugar, exalando amoníaco pra gente de manhã. E, dentro dos carros, vira e mexe passa alguém cujo banho já perdeu o prazo de validade. Nos finais de semana os parisienses e os turistas lotam os metrôs e aí tem que preparar o nariz para o choque.

2) Zueirinhas intencionais (eu acho): Dentro dos vagões há avisos de segurança do metrô que, possivelmente tentando atingir um público infantil, usam como mascote um coelho rosa. O coelho geralmente aparece com as portas batendo nas mãos dele, deixando bem claro o que acontece se você tentar segurar a porta para aquele seu amigo mais boca aberta. Contudo, sempre tem zueira por aí e um coletivo artístico resolveu dar uma zuada e fazer um adesivo mostrando o mesmo coelhinho rosa se machucando. Porém, o aviso dizia para não fazer "helicoptaire". E mais estranho ainda: o coelhinho rosa estava agora com suas calças abaixadas, provavelmente com as portas do metrô prensando o seu...bem, vocês entenderam.

Aviso original

Zueira francesa

3) Podreiragem: Paris é uma cidade bem limpa, mas não pense que os parisienses não jogam lixo no chão. Eles jogam, sim (e bastante). Contudo, eles têm uma grande quantidade de funcionários públicos e máquinas que limpam as ruas e calçadas da cidade (principalmente a dos bairros mais chiques). No metrô não é muito diferente, mas dependendo da linha você vai ver jornais e papéis atirados no chão, no maior desdém com a coisa pública. Ah, é, o metrô é 100% público em Paris (e o comunismo ainda não chegou aqui, gente...juro!).

4) Artistas do metrô: Tem gente que acha lindo e eu só acho chato. Não curto mesmo. Algumas das nossas experiências com artistas do metrô em Paris incluem um acordeonista tocando Michel Teló enquanto passávamos na frente da torre Eiffel e um teatro de marionetes de um homem só, no meio do vagão onde estávamos. Há que se considerar também os cantores de ópera, os violeiros e os trompetistas. Nos finais de semana o fluxo de artistas aumenta nos metrôs...para a tristeza do carrancudo aqui.

5) Parkour na roleta: Parkour é um "esporte" (hahaha) que os franceses inventaram que é tipo uma corrida de obstáculos, mas sem a parte da corrida. Mas no metrô é que eles se destacam nisso. As roletas são relativamente bastante seguras, mas são todas eletrônicas. Você bota o bilhetinho, ele te devolve e a cancela abre para você passar. Mas dependendo do caso, dá para ser rapidão, pular a roleta, dar um chute na cancela e sair correndo pegar o metrô para não chegar atrasado. Há outras táticas também, como a da encoxada: o sujeito bota o bilhetinho e antes dele passar a roleta, você encoxa a pessoa e os dois passam juntos na mesma roleta (nunca fizemos esse, gente). Ou seja, os parisienses também têm seus "jeitinhos".

6) Mendicância: Já comentamos muito isso, mas Paris é uma cidade com grande número de mendigos - embora seja, sem dúvida, uma situação diferente da que estamos acostumados no Brasil. O metrô é um espaço privilegiado para muitos desses mendigos que fazem sempre um discurso semelhante ao que se vê no transporte público brasileiro: lamentam sua situação e pedem um dinheiro para ajudá-los (alguns falam que o dinheiro era para beber ou para fumar, o que é ok também). Mas é de se notar também que nos dias mais frios, é possível notar também que o número de mendigos dormindo nas estações aumenta drasticamente. As estações são protegidas do frio, logo é uma solução encontrada e que aparentemente não faz com que a polícia francesa tenha ímpetos de ficar humilhando essas pessoas - bem diferente do que vemos no trato da Brigada Militar com mendigos e moradores de rua em Porto Alegre.

7) O narrador da linha 4: De todas as coisas que mais nos chamam atenção no metrô de Paris, nenhuma é mais zueira do que o narrador da linha 4. Algumas linhas do metrô tem uma gravação no alto-falante que informa as estações. Não são todas, claro, mas sim as principais. A linha 4, que conecta Paris inteira, tem o narrador mais simpático. Quando ele fala "Saint Sulpice", a Juliane se derrete! A voz é melodiosa e alegre (aposto que ele não nasceu em Paris) e certamente contribuiu muito para melhorarmos a pronúncia do nosso francês.


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