quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Paris vaut bien une messe

Henrique IV, um dos reis que essa terra já teve, em uma artimanha para agradar a galera se converteu ao catolicismo (pela segunda vez) e lançou a seguinte frase: "Paris bem vale uma missa". Bom, isso aconteceu já faz um tempinho, lá por 1593, mas Fernando e eu, que não somos religiosos, concordamos: vale mesmo! Passear pelas igrejas de Paris é ser exposto a uma aula de História, seja da Arte, ou da própria França. 

Logo que chegamos fomos nas icônicas e famosas, agora com mais calma temos visitado as não tão famosas e nem tão bonitas, mas cheias de história. Ainda faltam algumas da nossa lista, mas já dá para ter uma noção da coisa toda. 

Notre Dame (4º arrodissement)

A Notre Dame é um dos cartões postais de Paris: uma das mais antigas catedrais em estilo gótico (a-do-ro!) francesa, o início da sua construção data do século XII, foi cenário do famoso romance Corcunda de Notre Dame, de Victor Hugo (1831). Foi um dos primeiros lugares que fomos, salvo engano, e é muito impactante ver um lugar desses, que faz parte do seu imaginário, ali, ao vivo. Porém, foi um dos primeiros lugares que sentimos a dessacralização (no mau sentido) total do patrimônio histórico/espiritual: a horda de turistas tirando selfies, conversando aos berros e até dando cambalhotas (sim!) naquele espaço estragou bastante a nossa experiência. 




Sacré Coeur (18º arrodissement)

Outro cartão postal da cidade, a Sacré Coeur situa-se no topo do monte (em Montmartre) e é "novinha": o início de sua construção data de 1875 e foi construída para pagar uma promessa pós guerra franco-prussiana. Atrai milhares de turistas e pickpocktes também, mas tem uma belíssima vista de Paris.


Saint Chapelle (1º arrodissement)

A Saint Chapelle é a menina dos meus olhos, gente. Quando entramos na capela e vimos aqueles vitrais, ali, assim, tão lindo, marejei os olhos, confesso. A igreja é do século XIII, gótica, e esta em reforma agora, assim a sua fachada está comprometida (ela não é propriamente atraente por fora), não tendo a suntuosidade das outras. Mas por dentro...não vou nem colocar voto dos vitrais porque nenhuma foto vai ser condizente com a beleza que eu vejo ali. Durante a Revolução Francesa virou centro administrativo da galera. Detalhe: essa é a única igreja que a gente paga para entrar, e vale cada centavo. Uma pena só que o principal vitral, que á rosa que conta o Apocalipse, está em restauro.


Saint Eustache (1º arrodissement)

Com sua construção iniciada em 1532, é mais uma das preciosidades góticas da cidade. E é gigante, e um tanto sombria: com luzes amarelas e vitrais escuros, a luz no final do dia fica bem soturna... Ela chegou a virar um estábulo durante a Revolução Francesa, mas antes disso ela chegou a ser uma das mais populares catedrais francesas, sendo usada para o batismo de Luís XIV e para o sepultamento da mãe de Mozart.


Saint Germain l'Axerrois (1º arrodissement)

Bem pertinho do Louvre, essa igreja até está meio caída por fora, mas vale a visita, pelo menos pelo fetiche: foi das torres dessa igreja e do toque de seu sino que foi dado o sinal para o massacre de protestantes na Noite de São Bartolomeu (1572). Curioso é que não tem nada na Igreja que lamente o ocorrido. Um pedido de desculpas, sei lá...


Saint Germain de Près (6º arrodissement)

Vimos essa meio sem querer, tão sem querer que a gente nem tem foto dela por fora... e depois descobrimos que ela é mais antiga de Paris ainda em pé: ela é do século VI, gente. Tipo, ela é da época dos francos, bem antes de existir a França mesmo! E é aqui também que está enterrado o René Descartes, logo...vale muito.



Saint Gervais Saint Protais (4º arrodissement)

Essa é do século XV, não tão velhinha quanto as outras, mas tem seu charme. Nos bancos do coro, tem gravuras encrustadas na madeira indicando ofícios da cidade. E ela tem também uma história trágica, por ter sido atingida por um míssil na Primeira Guerra Mundial que matou alguns de seus fieis. Mas a lembrança mais viva que eu tenho dela agora é do Fernando tomando um xixi de paroquianos porque ele cometeu a "bobagem" de ter ficado de costas para o altar...errou feio, errou rude!


Saint Merri (4º arrodissement)

Mais uma das góticas lindas daqui, essa do século XVII, com detalhe para a estátua de um simpático demônio chamado Baphomet que fica no pórtico. Ele é bem pequenininho, mas dá para ver o feioso ali se vocês derem zoom na foto. Infelizmente não deu para entrar nela no dia que fomos, mas vale pela curiosidade.


Saint Paul Saint Louis (4º arrodissement)

Igreja do século XVII construída por Luís XIII em homenagem aos seus bróders jesuítas. Aqui predomina o estilo barroco mesmo - mas diferente do que a gente viu no barroco polonês e no barroco tcheco. Aqui há menos ouro e menos suntuosidade - o rococó tá na arquitetura mesmo. Isso porque durante a Revolução essa igreja foi palco de um massacre de padres e também se tornou um "templo dedicado à razão", em 1801.


Saint Sulpice (6º arrodissement)

Essa aqui é famosa porque aparece n'O cógido da Vinci, mas ela tem outras qualidades também: é considerada a segunda torre mais alta de Paris (dá uma vertigenzinha de olhar), o início de sua construção data de 1646 e é considerada romântica em sua arquitetura. Durante a Revolução Francesa ela foi fechada, se transformando em um "templo da razão" (que nem a St. Paul): há uma inscrição quase ilegível em uma das portas, vimos isso graças ao guia que tínhamos em mão, mas mal aparece em fotos de tão apagado.


Tour Saint Jacques (4º arrodissement)
Essa torre é tudo o que resta de uma igreja, construída no século XVI, e que tem sua arquitetura denominada como "gótico flamboyant" - que é essa mistura de gótico com barroco que os franceses têm por aqui. A torre também é lembrada como Saint Jacques de la Bouchérie, em homenagem principalmente aos açougueiros da antiga região do Marais que financiaram a sua construção. Quem caminhar pela Rivoli não tem como perder ela de vista.



Ainda há outras igrejas a citar (e a visitar), sendo que também valeria incluir aí a Grande Mesquita de Paris: ela foi construída em 1929 e chama atenção do público pela arquitetura que imita o estilo de Córdoba.

Quem vem para Paris e fica pouco tempo não consegue dar conta de tantas igrejas, nem a gente consegue, mas que vale uma missa, isso vale.






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