segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Redefinindo estereótipos na Europa

A gente tende a achar que, por sermos todos brasileiros, somos todos iguais. Todos filhos do infame "jeitinho", que quando bem sucedidos, triunfamos apesar da nossa brasilidade. A gente adora quando um estrangeiro vem para o Brasil porque é quase como se ele reconhecesse algo de bom em nós, justo em nós, os vira-latas, que não nos reconhecemos nem uns aos outros. Aí a gente, que não é exatamente praticante da vira-latice, vem para a Europa e descobre que eles...bem, eles são todos iguais, mas com o jeitinho especial deles. A gente vem definindo e redefinindo alguns estereótipos por aqui e...bem, alguns são bastante curiosos.

1) Todos os homens franceses têm ombrinhos de frango. Isso exclui obviamente a comunidade descendente de africanos e árabes. Mas a verdade é que comprar roupas masculinas em Paris, para mim, foi um problema. Todos os parisienses parecem ser magros (é um desafio encontrar parisienses gordos, juro!), logo a numeração das roupas torna tudo difícil. Eu, que com 1,71m de altura tenho que comprar roupas "G" em Porto Alegre, aqui tenho que comprar roupas "XL" ou até "XXL"! C'est difficile!



2) Todo mundo que fala alto no metrô é latino. Nessa extensa comunidade que pega do México até a Patagônia (e inclui nós, brazucas-sangue-bom), dá para incluir também portugueses, espanhóis e, é claro, os italianos. Os italianos são ainda mais interessantes porque além deles falarem alto como um brasileiro, eles falam com as mãos também...como um italiano. Dá vontade de abraçar todos eles de tanta saudade que eu ando da zueira!

3) Todo parisiense que é carinhoso é imigrante. Ou descendente de imigrantes. Ou teve algum imigrante na família. Parece piada que basta conversarmos um pouco com algum nativo e pensarmos: "nossa, que sujeito simpático", logo em seguida ele revela que é marroquino, ou argelino, ou latino - e aí já sai falando alto. Não que os parisienses não sejam "educados" (a tal da politesse)...mas eles são bastante indiferentes no seu trato pessoal. É o pessoal que inventou o termo blasé, saca?

4) Todo belga é simpático. Vai entender, né? Antes de vir para a Europa, o nosso imaginário sobre a Bélgica se resumia ao Tim Tim. Mas depois de ter passado um findi em Bruxelas e ter encontrado alguns belgas nas nossas andanças europeias, tudo indica que o pessoal lá é bastante simpático. Eles falam francês, holandês, inglês (alguns) e até contam piadas - o que parece ser algo bem estranho para os padrões europeus.



5) Todo berlinense legal não é de Berlim. Essa quem nos disse foi uma moça chamada Anna (?), num trem que ia do aeroporto até a capital alemã. A Anna era de Hamburgo, mas fazia mestrado em Berlim. Segundo ela, ninguém é de Berlim. E como ficamos numa zona bastante cheia de imigrantes, tivemos essa sensação. Berlim parecia um pouco uma Babel, onde em determinado momento da noite misturávamos inglês, francês, espanhol e português...junto com os latinos e os belgas.

6) Todos os tchecos acham que são parisienses. Injustiça porque só estivemos em Praga. E Praga, como ela mesma se orgulha, é a Paris do leste europeu. E nada contra esse título, Praga é uma graça, a cidade é lindinha mesmo. Mas os tchecos que conhecemos lembravam os bons e velhos parisienses. Muito indiferentes...mesmo. E isso que eles bebem e fumam alucinadamente, mas ainda assim, conseguiram passar a impressão de blasé pra nós.

7) Todos os garçons italianos são gatos. A Juliane não me perdoaria por deixar essa de fora, mas tenho que dar o braço à torcer. Os caras são lindos! Todos os garçons parece que saíram de um catálogo de modelos, todos com barba por fazer, altos, bonitos... eu só não fiquei mais preocupado em Roma porque a Juliane sabe que eu sou meio-oitavado italiano, então tá de boas.

8) Todo trânsito em Roma é um horror. Em nenhuma cidade tive tanto medo de ser atropelado como em Roma. Ali, calçada é artigo de luxo e nas antigas ruas, passa carro, sim. E se elas são muito estreitas, não se preocupe: os italianos usam muito os carros que cabem 2, ou até 1 pessoa. Isso quando não usam aquelas lambretas, as "vespas", como se estivessem num maldito filme do Fellini.



9) Todo estereótipo é limitado. Esse texto não pretende, claro, ser ofensivo para ninguém. Todas as cidades que passamos nos deram experiências incríveis e em todas elas a gente encontrou pessoas legais e/ou situações sensacionais que nos fizeram pensar sobre esses estereótipos e, é claro, sobre nós. Afinal, a gente gosta de considerar que a zueira é a nossa parte constitutiva, que a nossa identidade pode ser positivada por isso. Mas até aí, esse blog também é sobre dialética, e sobre o que a gente acha que constitui o outro enquanto ele pensa que nos constitui. Sacou?

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