terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Polêmica de Nöel!

Pelas bandas de cá, a laicidade do Estado esta na constituição desde 1905: locais públicos não podem conter nenhum sinal religioso, com exceção de lugares de culto, cemitérios, museus e exposições. E parece que a coisa é levada a sério (amém! - com o perdão da zueira).

Dia desses, no departamento de Vendée, que fica a uns 450 km de Paris, a assembleia decorou seu hall de entrada com um presépio, algo que parece que eles faziam todos os anos. Pode? Esse ano não. De acordo com a constituição e com a interpretação dada ao presépio, o caso foi julgado e o pessoal precisou desmontar a sua decoração de Natal.



De maneira geral, o que é colocado em xeque são a laicidade, o suposto autoritarismo da laicidade, se o presépio é um emblema religioso ou uma manifestação cultural, e por aí vai.  Segundo Bruno Retailleau, presidente da assembleia de Vendée, o presépio é um patrimônio, um símbolo comum a todos,e não unicamente um símbolo de uma determinada crença. Segundo a Federação Nacional do Livre Pensamento (!!!!), o presépio é sim um emblema religioso e não respeita o direito de livre pensar dos cidadãos, que ao adentrarem o hall vão dar de cara com um emblema religioso.

Em Béziers, a quase 800 km de Paris, tretas da mesma ordem: o prefeito colocou um presépio na prefeitura e não retirou, para dar uma provocada nos "aiatolás da laicidade". Ano passado, a treta foi em um estação da SNFC (o pessoal dos trens daqui): um usuário reclamou do presépio instalado em uma das estações, e o dito foi desmontado (aqui).

Já em Montargis, a cerca de 115 km de Paris, a diretora de uma escola decidiu que não vai haver visita do Papai Noel este ano. O argumento: respeitar as diferentes crenças e a laicidade. O prefeito alega que isso é fruto da pressão das famílias muçulmanas e que vai ter Papai Noel sim, já que ele não teria qualquer conotação religiosa. Em Havre, a menos de 200 km de Paris, uma sobremesa contendo gelatina de porco foi retirada do cardápio em função das práticas muçulmanas que proíbem o consumo dessa carne.



Segundo Dunia Bouzar, especialista em estudos do Islã, há problemas, tanto na questão do Papai Noel de Montargis quanto na gelatina de porco de Havre: as instituições decidiram, o que demonstraria um problema de definição do que é ou não é laico. Segundo ela, nem todos os muçulmanos não comem carne de porco e tirar ela do cardápio dessa forma é seguir uma tradição islmâmica, que logo violaria a laicidade. Além disso, papai Noel e presépios são coisas bem diferentes, segundo ela e que é preciso assumir que os feriados e férias de Natal são uma tradição cristã.

(A notícia foi reportada aqui, aqui, aqui, aqui e aqui , para quem lê em francês).

Não preciso nem dizer que os prefeitos e senadores que defendem os presépios são ou da direita ou da extrema-direita. A novidade, para gente, é o debate em si, que parece que acontece aqui em todo o Natal. Tipo, no Brasil, quando querem tirar um crucifixo de um tribunal é um auê! Aqui...bem, aqui a laicidade é um troço muito levado a sério. E pau que bate em Chico, bate também em Francisco. Se a direita usa da laicidade para destilar a islamofobia, é bastante natural que o mesmo argumento seja usado para cortar as asinhas do cristianismo natalino.

Amém!

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