quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

E na Biblioteca Nacional eu me perdi...

"Você já esteve dentro de uma enciclopédia?" - perguntava o outdoor da ala oeste da Biblioteca François Mitterrand. Achamos graça, mas olhamos em volta; estávamos cercados por livros. Por todos eles, dispostos em quatro gigantescas estantes em formato de "éle".



Chegamos lá indo pela rua Fernand Braudel: bom presságio! Sempre gostei do Braudel - historiador, veio para Brasil, faz umas metáforas lindas sobre a espuma das ondas. E na passagem, uma pracinha: a square James Joyce, meio parada para uma manhã fria de outono. Auspicioso demais!

Ao chegarmos, uma escadaria de madeira gigantesca abre o caminho até a Biblioteca. E eu admito: nunca tinha visto algo assim. Como entramos pelo lado oeste, corremos feito umas crianças de 30 anos e fomos até a ponte que liga a Biblioteca até a outra margem do Sena. Uma paisagem maluca, algo que parecia um escritório burocrático dos livros, mas cheio de cores outonais. A entrada era no andar de baixo, onde um pequeno bosque ficava no miolo do prédio. Tínhamos que entrar, mas queríamos ver a "superfície" ainda. A ponte, os pequenos jardins...




Na descida, uma grata surpresa: um cinema da biblioteca! 6 euros a sessão na matinê, que é lá pleas 10h da manhã - e com muita coisa interessante. Com pipoca ficava mais caro, claro, mas parecia excelente. Quem sabe numa próxima?

O jeito era entrar, estava frio lá fora. E para entrar, claro, é de graça. É uma biblioteca pública, ora. Mas se quiséssemos sentar numa das 10 áreas para estudar, teríamos que pagar 3,50 euros. Se quisermos pesquisar nos manuscritos e livros antigos, 8 euros por 3 dias. Por hoje, era melhor só conhecer a Biblioteca em seus cheiros e suas cores. E lá fomos nós! Só dar uma passadinha nela, contornar seus prédios principais. Opa, uma livraria! Com 10 milhões de livros disponíveis ao nosso redor, tivemos que passar na livraria.

2 livros e 25 euros depois - é, não deu para economizar dessa vez -, seguimos o barco. As salas amplas, espaçosas. Os corredores então, com cadeiras e mesinhas, com tomadas e tudo, permitindo que se trabalhasse ali mesmo, no meio da biblioteca. Traz teu notebook, teu livrinho, teu caderno e senta ali. Tem até tomadas e wifi gratuito. Mas a gente seguiu...



A gente seguiu até uma pequena exposição gratuita sobre mapas e cartografias, apresentando uma réplica gigantesca dos globos de Coronelli, um cartógrafo francês do final do século XVII. O Brasil tava ali, representado inclusive pela nosso peculiar hábito de devorar e deglutir o estrangeiro. Mas o globo era muito mais, era um show à parte. A exposição em si, apesar de minúscula, é um sonho geográfico. Exposições lindas na biblioteca, embora a maioria delas fossem pagas. Mas dá para olhar no site deles.


E do lado: um café. Um café na biblioteca, gente! Com comidinhas quentes e frias, mesinhas e, principalmente, uma honesta máquina de café por 1 euro (ok, na Sorbonne o café sai por 0,50...mas 1 euro ainda tá valendo). Não sentamos ali. Café da manhã reforçado, sabe como é. E então seguimos, fomos mais além. Fomos dar a volta.

Quando finalmente chegamos de volta na entrada, deu aquela vontade de ficar na biblioteca de novo. A Juliane bem que disse: eu poderia morar aqui! Será mesmo? Voltamos para o topo enquanto eu ficava pensando nisso.

Na parte de cima, algumas carrocinhas de comida se instalavam para aproveitar o horário de almoço: comida tailandesa e um curioso pizzaiolo que dirigia um "carro-forno" (pena que não tiramos fotos dele). Numa das estantes em "éle", uma lojinha com objetos nerds - alguns excelentes - e com cinema dentro: ali é a área da MK2, onde se concentra basicamente a "videoteca" francesa. Ó, céus!

Construída inicialmente em 1461, ela só ganhou esse formato (que é o da Bibliothèque National François Mitterrand) em 1996, quando as obras ficaram prontas. E é um templo mesmo. É o que eu acredito que deveriam ser as grandes bibliotecas, mas também as pequenas: um lugar massa para a gente poder curtir os livros - mesmo que seja só a presença física deles. Eu moraria dentro dessa biblioteca: eu poderia morar nessa enciclopédia gigante.

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