quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Turismo gauche en Barcelona

Hoje resolvi dar uma volta pelas ramblas de Barcelona, motivado por uma ideia: o que podemos ver da Guerra Civil Espanhola em Barcelona?

Encontrei a matéria no Daily Mail britânico sobre George Orwell e resolvi botar fé nisso. Além disso, durante a manhã, um professor que conhecemos ainda deu as barbadas: foi ali que Orwell atirou contra os comunistas. Contra os comunistas? Pois é... Orwell era um socialista convicto e veio para cá para fazer uma cobertura jornalistica da Guerra que recém começara. Graças às más companhias (ou boas), foi parar no POUM, o Partido Obrero de Unificación Marxista.

Lá Orwell conheceu os comunistas/anarquistas do POUM (meu tipo!) e papo vai, papo vem, ele pegou em armas em nome da luta antifascista. Contra o rei, contra Franco, contra Hitler e toda a corja. Mas em 1937 o tio Stalin tava num processo muito louco de mostrar que ninguém era mais comunista que ele lá na URSS e resolveu tentar algo parecido na Espanha. O resultado é que os comunistas espanhóis tentaram tomar a frente na revolução espanhola. Mas aqui na Catalunha o buraco era mais embaixo: anarquistas e poumistas estavam num processo mais radicalizado e aí... Bem, aí Stalin se livrou da concorrência e implementou a Tcheka na Espanha também.

Isso tudo pra dizer pra vocês que em maio de 1937, Orwell e outros poumistas tiveram que trocar tiros com os comunistas. Essa é uma das histórias mais fratricidas da esquerda mundial e ocorreu aqui, em Barcelona, nessas mesmas ruas cheias de bancos fraudulentos e fast food gordurosos. O que sobrou dessa época?

Bueno, segui algumas informações coletadas da internet e digo pra vocês: quase nada. Atentar para o hotel Continental. Foi lá que Orwell se instalou na época da guerra. Desçam alguns números nas Ramblas e no 128 dá pra ver o lugar onde o homem lutou. É também o lugar onde o líder do POUM, Andreu Nin, foi sequestrado pela Tcheka, sendo interrogado e assassinado a mando de Stalin. Tem uma placa comemorativa no local. Descendo mais, o Café Mola (citado por Orwell em sua "Homenagem a Catalunha") ainda tem marcas de balas. Tudo isso na rua principal das Ramblas.



Em Montejuic ainda tem  abrigo antiaéreo da época da guerra, mas não consegui visitar. Em troca, resolvi olhar outro marco da Guerra Civil: a praça de Sant Felipe Neri. Ela é bastante escondida entre as ruelas da Ciudad Vieja, mas vale a pena. Lá vocês encontram uma igreja com as paredes perfuradas por balas dos muitos e muitos fuzilamentos da época. Foi ali que 42 crianças, no ano de 1938, foram mortas num bombardeio da força aérea franquista, apoiada na época pela Itália fascista e pela Alemanha nazista.

Ali engoli em seco e senti raiva. Só raiva. Não havia a impotência de Auschwitz, mas o ódio de estar diante de uma tragédia anunciada ao mesmo tempo que estava escondida na memória.

Vale procurar ainda mais sítios da guerra em Barcelona. Vale a indignação. Sempre.


PS: teve mais fotos, mas só em Paris vamos poder colocar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário