sábado, 27 de dezembro de 2014

Imagens de muitas Paris

Hoje fomos no Hotel de Ville, aqui por Paris, para dar uma olhada na exposição "Magnum" - uma exposição da principal agência de fotojornalismo, focada exclusivamente na cidade de Paris. O mais legal é que era gratuita e, bônus, era num lugar que eu queria muito conhecer: o Hotel de Ville.

Para quem não sabe, o Hotel esse ficou famoso pelas representações artísticas feitas nele durante os processos revolucionários que a França passou no século XIX. Mas a história do Hotel é mais interessante ainda. Em 1357, quando a mansão foi adquirida pela prefeitura de Paris, ela servia como principal local das execuções públicas. Ali, onde hoje tava rolando um belo rinque de patinação no gelo, tinha alguns feras que eram esquartejados e queimados em praça pública! Já durante a Revolução Francesa, alguns linchamentos ocorreram no mesmo lugar e foi ali também que Maximillien de Robespierre, chefão do governo da Convenção, tomou um tiro na mandíbula e foi preso no que se chamou de "reação termidoriana". Em suma, só coisa violenta legal rolava por essas bandas.

Mas para quem já abriu um livro didático de História, o Hotel de Ville é lembrado principalmente por esses dois quadros:




Ambos são sobre episódios sangrentos ocorridos no Hotel de Ville, na Revolução de 1830 (o de cima) e na de 1848 (o de baixo). Aqui era a sede da prefeitura de Paris, logo os agitos geralmente ocorriam na frente do negócio. Reparem também que, nesses quadros, além da tricolor também tem a bandeira vermelha tremulando. Diz a lenda que a bandeira vermelha, de cunho socialista, tem origem entre os jacobinos que usavam ela para representar o "sangue" dos que lutavam pela República. Mas parece que a onda só pegou depois, entre as revoluções de 1830 e 1848 mesmo...e, desde então, o Hotel virou palco para muitas manifestações socialistas na França.

Porém, quando teve a Comuna de Paris, em 1871, o bicho pegou. Os comunistas e anarquistas franceses tomaram o Hotel de Ville, mas foram bombardeados a tiros de canhão pelos republicanos franceses. E o resultado disso foi não apenas a queda do governo comunardo, mas também um incêndio que destruiu completamente o prédio. Como cinismo é algo que dá em mato nesses casos, os republicanos depois mandaram reconstruir o Hotel de Ville...exatamente como ele era antes. Assim, em 1882 ele estava de pé de novo. Exatamente igual ao que ele era antes.

Hoje em dia, vira e mexe tem algo acontecendo no Hotel de Ville. Lá por setembro, vimos uma manifestação. Em outubro, uma instalação artística polêmica...agora, um rinque de patinação. Melhor que as pessoas torturadas durante a Idade Média, mas não tão legais quanto os levantes revolucionários do século XIX...fazer o quê, né?

E a exposição???

Bom, não eram muitas fotos, mas era interessante porque passava durante um período de 1936 a 2014 em Paris. E com fotos de gente como Robert Capa, Cartier Bresson, entre outros...gente que a gente só conhecia en passant, pelas suas fotos mais famosas. Então algumas capturas da época do governo do Front Populaire nos anos 30, ou da Resistência Francesa nos anos 40, da pobreza e da reconstrução parisiense nos anos 50 foram incríveis de ver ali, de pertinho. Já nos anos 60, o destaque ficou pela cultura jovem e pelas manifestações de maio de 1968. Nos anos 1970 e 1980, a modernização francesa contrastando com a força da filosofia parisiense...e nos 1990 e 2000, o foco ficava por conta do declínio do fotojornalismo.








Eu, particularmente, tenho dificuldade para apreciar fotografia e admito minha ignorância no tema. Mas ver alguns desses trabalhos foi realmente emocionante e era uma forma de conhecer (e reconhecer-se em) Paris por outros ângulos. A cidade evoluiu - e também declinou - de diferentes formas e é sempre curioso ver lugares que passamos hoje tal como eles eram há 30 anos atrás, por exemplo.

Foi uma daquelas visitas boas, despretensiosas e gratuitas que a gente ainda aproveita na cidade. Andamos pensando já em Porto Alegre, claro...mas Paris sera toujours Paris.

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