O título desse singelo post evoca
o nome de Rogério Sganzerla e seu filme trash-cult-clássico, A mulher de todos (1969). Ele fala sobre
a relação de Ângela Carne e Osso, uma ninfomaníaca casada com um gordinho reaça
ao extremo interpretado pelo bem humorado Jô Soares. Ângela menospreza o seu
marido, Plitz, que ao longo do filme chega para o seu amor e solta a seguinte
frase: “me chama de bitolado!”
Longe de mim querer bancar o
Plitz – que chega a demonstrar simpatias com o nazismo ao longo do filme.
Tampouco com Jô Soares que, apesar de ser mais legal nos anos 60 do que hoje em
dia, ainda é o Jô Soares. O meu interesse aqui é um só: lamentar (e zoar) o
fato de estarmos longe do Brasil a exatos 15 dias.
Se fosse em qualquer outra época,
talvez não estivéssemos se sentindo tão alienados, mas estamos no meio da
corrida eleitoral. Mesmo com acesso à internet, todo aquele saudável clima de
baixaria generalizada passa ao largo da gente. Em parte isso se dá porque
sabemos usar a opção de ‘bloquear usuário’ no Facebook. Em parte também porque
fizemos um pacto de sangue para não ler nunca os comentários de sites de
notícias. Mas em parte também porque, quando no Brasil, é impossível não ser
engolido pelo clima político-eleitoral mesmo quando você vai comprar pão numa
padaria. Aqui na França, o noticiário político tem discutido os escândalos e
problemas do governo Hollande (que não são poucos). Mas ainda assim, eles levam a política tão a sério aqui que a própria noção de escândalo parece bem diferente da nossa. Eventualmente eles até dão uma
olhadinha para outras partes da Europa, como no caso da independência da Escócia, torcendo descaradamente pelo fim do Reino Unido as we know it [detalhe: terminei o texto e o "não" venceu na Escócia]. Mas sobre o Brasil, muito
pouco quase nada.
Não é bem que estejamos sentindo
falta das notícias, mas sim da qualidade das notícias. Ontem mesmo o amigo Pablo Fernandes nos lembrou que Pepe e
Neném participarão da sétima edição da Fazenda, uma informação fundamental [não
sabe quem é Pepe e Neném? Clique aqui] para qualquer zueiro morador de terra
brasilis. Por outro lado, algumas das mais importantes a gente vê no dia seguinte, como o debate dos presidentes e o atordoador “uma
ova”, de Luciana Genro – direcionada ao senador Aécio Neves. Mas informações
como o elenco da Fazenda, a gente perde. A gente perde os memes, a gente perde as piadas, a gente perde a baixaria e a gente perde a zueira. E longe de
nós perder a zueira!
Há a apreensão também para as questões sérias: os casos recentes de homofobia e racismo no Rio Grande
do Sul e no Brasil têm nos deixado um tanto quanto angustiados – lembrando principalmente dos casos do goleiro Aranha e a torcida gremista, assim como do incêndio do CTG que ia promover a união civil de casais homossexuais. Mas ainda assim não é a mesma coisa – comentamos com poucos
amigos e, portanto, elas parecem existir somente na nossa seleta timeline. Essa sensação de que temos pouco – ou nenhum –
poder de decidir questões no Brasil transparece na nossa postura política. Se
em agosto estávamos mornos em relação às eleições brasileiras, hoje em setembro
estamos em polvorosa, combinando inclusive maratonas de primeiro e segundo
turno conectados na internet para acompanhar tudo que for possível. É quase como se quiséssemos participar mais agora do que quando estávamos em Porto Alegre.
A Juliane me lembrou ontem: estamos numa espécie de vácuo, porque não fazemos mais parte daquela realidade cotidiana brasileira, mas não nos integramos na realidade cotidiana parisiense. No meio do caminho, criamos nosso próprio caminho do meio, alternando em coisas que nos lembram do Brasil e tentando se integrar, pouco a pouco, ao estilo de vida parisiense. É a estratégia da zueira, é bem verdade. Mas é duro admitir que estamos ficando alienados da boa e velha zueira brasileira. Appelez-moi borné - ou me chama de bitolado!
A Juliane me lembrou ontem: estamos numa espécie de vácuo, porque não fazemos mais parte daquela realidade cotidiana brasileira, mas não nos integramos na realidade cotidiana parisiense. No meio do caminho, criamos nosso próprio caminho do meio, alternando em coisas que nos lembram do Brasil e tentando se integrar, pouco a pouco, ao estilo de vida parisiense. É a estratégia da zueira, é bem verdade. Mas é duro admitir que estamos ficando alienados da boa e velha zueira brasileira. Appelez-moi borné - ou me chama de bitolado!
E este vácuo só tende a aumentar com o tempo...
ResponderExcluirgente, ponham um negócio de seguir o blog ali do lado, assim a gente recebe as atualizações ;)
ResponderExcluircolocamos! ;)
ResponderExcluir:)
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