quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Je parle portugais.

Paris é uma cidade de muitas línguas, como toda metrópole que se preze: no metrô você vai escutar desde a sua língua materna até aquelas que você não consegue nem identificar. E, nesse espaço multilinguístico, o português também tem território bem marcado: não falo dos turistas, que são muitos, nem dos estudantes e imigrantes (estima-se em 73 mil o número de brasileiros na França), falo sobretudo de lugares nos quais você vai se sentir no Brasil (ou em Portugal), e de quebra ainda se comunicar naquele português matreiro.

Estando ligada ao grupo de Estudos Lusófonos na universidade, posso ter aulas tanto em português brasileiro quanto no português da terrinha. E através do grupo acabei tendo conhecimento de alguns lugares bem interessantes para quem consome cultura em português (e também gosta de um pastel de nata). Primeiro, a Biblioteca Gulbenkian, que possui um bom acervo de livros em língua portuguesa e alguma coisa de obras traduzidas (a biblioteca faz parte da Fundação Gulbenkian). Além de ter um espaço bem agradável de leitura, ela ainda oferece uma série de conferências sobre cultura lusófona (principalmente voltada para Portugal, mas alguma coisa de África e Brasil também). 


Além da biblioteca, conheci também a Librairie Portugaise et Brésilienne que tem um ótimo acervo de literatura brasileira, principalmente contemporânea. A parte de crítica literária não é tão boa, mas há alguma coisa. Outro espaço cultural é o Lusofolie's: café-espaço cultural (que reza a lenda tem um pastel de nata sensacional). O espaço vai abrigar, nesse sábado, um debate sobre as eleições no Brasil, mas antes será exibido o filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, como uma homenagem aos 50 anos de sua realização. Em dezembro, por exemplo, a escritora Lídia Jorge participará de um bate-papo no café.  

Somados a esses espaços, há alguns institutos que pretendem divulgar (e fomentar) a cultura e a língua portuguesa brasileira por aqui: Autres Brésils e Alter Brasilis. O primeiro está promovendo em outubro a 10ª edição do "Brésil em Mouvements", com apresentação de filmes documentários e debates. O segundo oferece, entre outras coisas, cursos de português e cursos de francês para falantes de português.



Mas, para além da cultura mais formal há também aqueles espaços onde podemos simplesmente comprar uma Velho Barreiro por 23 euros e 50 cents. Essa lugar existe e se chama Coisas do Brasil: uma loja que, além de vender uma cachacinha, ainda vende erva-mate, para minha tranquilidade. Outro espaço brasileiro é o Barracão, bar que se localiza no 11eme (bairro mais alternativo e cheio de bares com bons preços): lá tem caipirinha, feijoada, moqueca e tudo mais. E claro, música brasileira: funk (Valesca diva!) e sertanejo-universitário (difícil), com direito aos atendentes se deixando levar pela cadência da música. A decoração do bar já é vista de longe: na fachada uma imensa bandeira do Brasil. Lá dentro, várias propagandas das antigas de cervejas brasileiras, daquelas ofensivas dos anos 90, sabe? 


Encontrar esses espaços não nos deixa mais à vontade de todo, inclusive há um estranhamento recorrente nesses encontros. A gente pode até se sentir familiarizada, mas há um misto de tranquilidade e desconforto: é como ver a Carminha falando em francês todas as manhãs. 

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