sábado, 13 de setembro de 2014

Encontros com a modernidade

Estávamos no museu de arte moderna da França, o Centre Pompidou, quando de repente eu vi: estava ali, numa ala sobre futurismo russo, a escultura de Vladmir Tatlin. Era um modelo, claro. A original nunca foi feita: a ideia era construir uma torre de aço ainda maior que a Torre Eifel. O título da obra? “Monumento à terceira internacional”.



A Juliane, por sua vez, teve seu encontro numa ala específica sobre a antropofagia e Tarsila do Amaral. Com o “Manifesto Antropofágico” na parede e obras da própria Tarsila, além de obras do Di Cavalcanti, ali foi um daqueles momentos em que eu me senti meio vira lata: feliz de ser reconhecido pelos gringos.



Esses dois momentos talvez tenham sido os mais emocionantes encontros com a modernidade que tivemos em Paris até agora.

Na capital francesa se vive a modernidade constante do início do século XX. Ao perambular por alguns bairros mais turísticos, temos a impressão de que estamos na Belle Époque e que cada saída de metrô é como se fosse uma espécie de túnel do tempo. Esses encontros com a modernidade ocorrem o tempo todo, como se fossemos constantemente transportados para o passado glorioso da cidade.

É a glória – e não as revoltas, as greves e as revoluções – que a cidade celebra. E a glória parisiense é viver o passado sempre. É interessante isso, porque já ouvimos pessoas cansadas do fato de que, em Paris, a paisagem é sempre a mesma. Linda, mas com essa perspectiva de que tudo é um constante monumento. Em dado momento você não distingue mais uma rua qualquer de um local histórico, ou de um nome de rua e de uma homenagem póstuma. Essa falta de distinção pode ser cansativa, mas ao meu ver ela é muito mais vertiginosa – a rua que você pisa tem um significado passado que não é possível ignorar.



Talvez por isso seja verdade que se diga que respiramos história em Paris – embora também respiremos bastante poluição nos últimos dias. Mas é uma história bastante singela, quase que incompleta. Onde estão os monumentos aos pobres? Aos “construtores da Tebas de sete portas”, como diz o poema de Brecht? Os nossos encontros com o lado mais caótico da modernidade parecem estar nos museus, reservados para os olhares de quem tiver disposição de encarar todos os espaços e acervos históricos/artísticos da cidade. Nos encantamos com Talin e com Tarsila porque, em certo sentido, foram momentos em que vimos algo de celebratório no que a modernidade tem de mais legal que é a possibilidade de transformação social e intelectual.

A zuera, que é filha da modernidade, não costuma aparecer muito nas ruas bonitinhas e charmosas de Paris.


[para ler o poema do Brecht, clique aqui]

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