domingo, 7 de setembro de 2014

"Eu reconheço uma Cidade Baixa quando eu vejo uma"

Ontem foi dia de louvar nossos mortos no Cemitério de Montparnasse. No mapa de entrada do cemitério constam cerca de 100 nomes de famosos enterrados ali e a nosso recorte sentimental coube os nomes de  Simone de Beauvoir e Paul Sartre, Charles Baudelaire, Julio Cortázar, Émile Durkheim, Samuel Becket, Guy de Maupassant e Alfred Dreyfus, exatamente nessa ordem. De maneira geral os túmulos de famosos chamam atenção não pela arquitetura, mas pelos presentes deixados: bilhetes de metrô, livros, flores, recados, moedas, desenhos e beijos (a lápide de Simone e Paul é repleta deles). A exceção fica por conta do túmulo de Beckett que é bastante discreto.

Depois de uma tarde entre os mortos, optamos por uma noite tipicamente de sábado, ou seja, dia de tomar uma ceva, a primeira em Paris, visto que até agora só havíamos tomado um Bordeaux e um frisante Rosé que está super na moda aqui. Sempre que viajo para alguma capital do Brasil costumo perguntar aos nativos sobre o bairro boêmio deles. Em linhas gerais a pergunta seria: onde fica a Cidade Baixa de vocês? Assim, sempre que saio de casa procuro um lugar com aqueles ares da CB, mas de preferência sem aqueles Pedrinis e Donas Coisinhas que são padronizados demais. No fundo eu sempre procuro a CB dos meus vinte anos, com cerveja barata, buteco fuleiro e considerada um bairro "mais alternativo".

Assim, fomos parar no 11eme, meio por indicação de uma amiga que havia nos sugerido esse bairro para morar e também por indicação de um site que listava os 10 bares mais baratos de Paris, sendo que 3 se encontravam nesse distrito. Quando vimos isso pensamos: partiu! Descemos na estação Parmentier depois de umas duas "baldeações" de Montparnasse até lá. De saída da estação, muita "gente jovem reunida" e muitos bares com promoções de happy hours, que aqui pode começar à 13h e se estender até as 23h. Para se ter uma ideia do preço, o pint (copo) de cerveja, em média uns 450ml, custava de 3,5 a 6,5 euros, um preço bom para os padrões da cidade.

Fomos primeiro no Pili Pili por indicação do site que comentei, e adoramos: na entrada, uma foto da Laura Palmer e lá dentro, uma homenagem ao David Lynch.


Além disso, atendimento super bacana, com direito ao dono nos mostrando todo orgulhoso um cachaça cearense que ele tem exposta no bar. Somando a isso, uma trilha sonora punk rock americana bem aconchegante. Depois de pints por 4 euros, fomos comer um kebab delícia por 4,5 euros no Assoce, onde a Babel linguística se instalou, já que vocabulário para comida é sempre tenso, mas com a ajuda de um americano com um francês impecável tudo deu certo. . Alimentados, fomos atrás de outros bares, indo parar em um bar etíope (!) chamado Ethnika com mais pints por 4 euros e, por fim, para fechar à noite, mais um bar com pint por 4 euros. Nesse último ainda nos deparamos com a bandeira do Brasil exposta no balcão, dizem os donos que em função da Copa do Mundo. Curiosidade do bar: os donos, 3 jovens de 20 e poucos anos, se comportavam como clientes, ou seja, bebendo e fumando como todos os presentes, algo bem estranho para os padrões brasileiros. 

Fora o fato dos preços honestos e de bares legais, o 11eme faz eu sentir aquilo que eu sempre espero de um bairro boêmio e alternativo: a sensação de estar em casa, afinal, "eu reconheço uma Cidade Baixa quando eu vejo uma" (In: PUREZA, Fernando. Setembro, 2014).


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