domingo, 21 de setembro de 2014

Crônica de uma tarde de verão

Nhaca. Futum. Cecé. Budum. Fedor. Há tantas palavras na língua portuguesa, tantas gírias adequadas, que fica difícil encontrar uma só para definir o odor que exala dos nativos. Fétide ajuda a definir, mas nenhuma palavra consegue definir o terrível cheiro que exala de homens, mulheres, velhos e crianças que habitam a cidade luz.

Ontem foi um dia de testarmos o nosso olfato com tudo que se poderia demonstrar em termos de falta de higiene. Pegamos vários trens lotados, num percurso que passou pelo 18éme e pelo 11éme. Em todos eles, o cheiro de dias sem banho e a despreocupação com as regras básicas de saúde podiam ser sentidos a quilômetros.


Entre os franceses, os comentários mais xenófobos indicam que os mais fedorentos são da comunidade árabe. Outros dirão que a nhaca é maior entre a comunidade africana. Mas não conseguimos comprovar isso. Na verdade, o que percebemos é que o francês loiro, lindo e de olhos azuis fede tanto ou mais quanto qualquer outro ser humano. Podemos dizer, contudo, que eles fedem em proporções singulares em relação a nossa. Pegar metrô no sábado em Paris é ter a boa e velha experiência de pegar um Tinga lotado às 19h em dia de jogo em Porto Alegre. Mas há um alento para todo trabalhador brasileiro que passa por isso: a galera vai para casa, toma um banho e segue a vida. Aqui, como bem sabe-se pelos estereótipos, os banhos não são frequentes. Consequentemente, não se trata da nhaca nossa de cada dia - trata-se de uma nhaca sequencial, cultivada com o tempo e com as intemperes de um verão ensolarado.

Alguns cheiros em Paris são, sem dúvida, muito inusitados. Passar perto de uma formagerie, por exemplo, é sentir odores muitos distintos. Nem todos os cheiros de queijo são agradáveis e é normal a gente ficar um pouco enjoado quando se depara com essas lojas. Nos túneis do metrô de Paris, é bastante comum sentirmos cheiro de urina, o que torna a experiência do trem bem menos interessante. Mas são odores suportáveis para nós. Mas e o cheiro de quem há dias não usa um sabonete? Ou um desodorante? Ambos então, nem pensar.


No filme "Perfume", inspirado na obra homônima de Patrick Susskind, um jovem francês nascido na região mais pobre e fétida da Paris do século XVIII adquire o dom de ter um olfato super aguçado. Passados alguns séculos, a Paris moderna certamente fede bem menos. As ruas não cheiram a esgoto, tripas de peixe, ou gente morta. O metrô pode eventualmente cheirar mal. As lojas de queijo podem deixá-lo enjoado. Mas nada cheira pior do que o nativo nessa terra. E que me desculpem as generalizações e os estereótipos, mas hoje em dia a gente anda com vontade de abraçar as pessoas minimamente cheirosas que encontramos na rua.

4 comentários:

  1. na casa de vocês tem limite pra usar a água do banho?

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  2. não tem, não. (se tivesse eu já estaria PRESA hehe). mas já ouvi falar de lugares que tem esses limites.

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  3. a ju deve ser a pessoa mais cheirosa de paris. quiçá da frança.

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  4. Posso partilhar no meu face? Até que enfim alguém que concorda comigo heheheh!
    O que mais me surpreendeu foram as mulheres cheirarem mal tão mal quanto um homem! Credo!

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