sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Em ebulição


Para quem como nós nasceu em um país com muita tensão social, a insegurança sempre fez parte do dia a dia. Ao visitarmos países ditos seguros, sempre nos sentimos um pouco desestabilizados já que acostumados a uma atenção constante (principalmente nós, mulheres).

O que me chamou mais a atenção de chegada em Paris foram as estações de metrô: túneis e túneis sem policiamento. Me lembrei daquele pequeno túnel no Triângulo, na Zona Norte de Porto Alegre, onde sempre que eu passava encontrava um segurança particular (à tarde). Talvez os rapazes não entendam, mas, para uma mulher, passar sozinha em um túnel sem policiamento, principalmente à noite, pode ser uma aventura.

Depois, os caixas eletrônicos voltados para as ruas. Exato, você saca o dinheiro ali, na beira da calçada. Sem nenhum policiamento. E falando em policiamento, vimos muito pouco por aqui: em pontos turísticos MUITO turísticos, tipo Torre Eiffel; no Museu Judaico e na Casa da Delegação Palestina em Paris (tenso).

Assim, temos uma sensação de que não há perigo algum, o que poderia nos levar a pensar que não há pobreza, o que não é verdade.

Caminhando pela cidade, já se pode ver pedintes: no metrô, mulheres muçulmanas sentadas nas escadas com um copinho de moedas ao lado; homens bem vestidos para os nossos padrões de miséria interpelando pessoas e pedindo um euro (outra curiosidade para os nossos padrões de miséria é que encontramos um que falou conosco em inglês e espanhol). Além disso, pequenos golpes em saídas de metrô: meninas pedindo assinaturas em prol de alguma coisa para te distrair enquanto outras mexem na tua bolsa; jovens vestindo camisetas de ONGs e pedindo dinheiro para ajudar alguém-pobre-do-terceiro-mundo (nesse caso, é difícil saber o que é golpe ou não). Somados a isso, os “pickpocktes” do metrô e dos pontos turísticos, que miram os turistas distraídos. Em algumas linhas, o aviso dos batedores de carteira é dito em francês, inglês, japonês e mandarim. Breve parênteses: espanhol pode ser considerado uma terceira língua aqui, em muitos museus ela aparece, mas na hora do aviso sobre os furtos, bom, não precisa nem avisar, né gente? Nós, latinos, estamos bem educados quanto a isso).

O que já ouvimos por aqui, de moradores da França, é que a miséria em Paris aumentou muito, que está terrível. Inclusive me avisaram de alguns bairros que eu, mulher, não posso caminhar à noite sozinha. O que a minha cabeça latino-americana pensou? Pode piorar, e muito. Me lembrei então de todos esses ambientes “inseguros” que a cidade oferece, como o metrô e os caixas de banco, e essa cultura de confiança (as pessoas saem da mesa de bar para ir ao banheiro, por exemplo, e deixam a bolsa na mesa!), que em situações de tensão se acabam e me peguei pensando: como eles vão resolver isso no futuro?


Bom, com os índices de desemprego chegando aos 10% e o governo de Hollande passando por sucessivos escândalos, as pesquisas por aqui parecem apontar para a solução encontrada pela maioria dos franceses nas eleições de 2017: Marie Le Pen, candidata da extrema direita francesa, lidera as pesquisas para um possível primeiro turno, batendo Hollande em um possível segundo com 54% contra 46%. Será que é assim que eles querem resolver as suas tensões sociais, com um retorno ao fascismo? A gente não vai estar aqui quando isso acontecer (e tomara que não aconteça), mas já dá para sentir um friozinho na barriga.

Um comentário:

  1. Paris é tenso, mas dizem que a cidade mais violenta da França é disparado Marseille porque há muitos árabes, gangs e a convivência é turbulenta. Vou te contar bem honestamente, vivi em Portugal e senti muito preconceito, aqui na maioria das vezes parece um paraíso comparado com o que passei lá. O que não quer dizer que os franceses não o sejam com outras etnias que estão em maior representatividade (argelinos, turcos, etc). A França é um país que dá muitas "regalias" sociais e isto somado ao número de filhos que os imigrantes na maioria muçulmanos tem, cria uma sensação de que estão querendo além de se beneficiar das mesmas, tomar conta do país daqui uns anos.
    Obviamente não é a saída, mas estando aqui eu entendo o pensamento. Nós ficamos no limiar entre o que o governo considera um bom salário (sendo assim, não temos direito a nada) e vivíamos com aperto, sendo que conheço pessoas que tem 4, 5 filhos para ganhar da caf o aluguel, da segurança social um valor por cada filho, o que no fim dá-lhes uma renda muito maior que a nossa sem pagar quase nada de imposto. Mais uma vez eu penso, não é o caminho correto, mas eu entendo...

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