quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Tourist trap (Parte I)

Quando estivemos em Cuba, dois anos atrás, conhecemos um casal holando-dinamarquês em Havana. Por aqueles dias estávamos indo até Trinidad, um cidadezinha de passado colonial no interior do país. Segundo o casal, Trinidad era uma tourist trap. E disseram isso em português (eles moravam 6 meses do ano em Portugal para fugir do inverno holandês), então, na hora de definir o termo, faltou vocabulário, mas segundo eles quando chegássemos lá iríamos entender.

Foi assim que a gente conheceu um termo essencial para a vida de que volta e meia se vê como turista, o tourist trap. Mas o que seria isso? A tradução literal é "armadilha para turista", e é exatamente isso que ela é: você vai em um lugar com super potencial turístico e que exatamente por isso é mega explorado pelos locais, seja cobrando preços exorbitantes, seja cobrando por algo que não deveria ser cobrado. Naquela situação em Trinidad o que acontecia: muito assédio no oferecimento de passeios, mas diferente de Havana lá todos os lugares eram pagos, os garçons nos abordavam de forma mais ostensiva, muitos nativos tiravam as solitárias senhoras europeias para dançar já pensando no golpe, essas coisas. 

Apreendido o significado de tourist trap, passamos a procurar essas informações quando planejamos algum passeio para não cair nessas armadilhas. Mas, nem sempre é possível, por isso o post de hoje é para falar da MAIOR tourist trap que conhecemos aqui até agora, e de algumas pequenas armadilhas (que daí vão depender de ponto de vista, eu acho).

The oscar goes to... RYANAIR. A gente já falou nesse post aqui como era viajar pela empresa: nada anormal para quem viajar de Gol, TAM e Azul dentro do Brasil. Mas o problema da Ryanair não está no voo, nem no avião, nem nos preços camaradas e nem no fato deles terem uma loteria dentro do avião (juro!). Ele está em seu aeroporto, o Beauvais. E nem é porque ele já foi considerado o pior aeroporto da Europa, ele pode ser uma rodoviária, não tem problema, eu juro. O primeiro problema é que ele fica a cerca de 88 km de Paris, ou seja, ele nem é em Paris.


Mas isso não é um grande problema. Você pensa: paguei tão barato para viajar, não há problema nenhum em pegar um ônibus até lá. E esse ônibus existe, você pega aqui em Paris e ele te deixa lá no aeroporto de Beauvais e demora cerca de 1h30 - num ônibus sem lá muito conforto e sem wifi (lembrando que já fomos de Paris para Bruxelas num busão confortável e por 1 mísero euro - ver aqui). Se você calcular o tempo da viagem, mais o deslocamento dentro de Paris, mais o horário que precisa estar no aeroporto... bem, você precisa sair de casa umas 4 horas antes de embarcar. Não é legal, mas você pensa que valeu pela economia e tudo mais, afinal, se você pegou as passagens promocionais tradicionais você pagou 20 euros o trecho (o que pode ser Paris-Roma, Paris-Cracóvia, Paris-Madri, Paris-Lisboa, enfim, beaucoup de coisas). O problema, caro leit@r, é o preço que você paga pelo ônibus: 17 euros (ou 15,90 se você comprar pela internet e trazer o comprovante impresso). Trocando em miúdos: o trecho que você pagou 20 euros, acaba de virar quase 40. Sabe a economia? Talvez não seja tão econômica assim.

A EasyJet também faz lowcost por aqui e usa o De Gaulle e o Orly, que você chega de metrô. Ainda não viajamos com ela, quando acontecer contamos aqui. Mas Beauvais, nunca mais! 

Agora as pequenas tourists traps que já encaramos, na minha modesta opinião.

1) Subir no Arco do Triunfo (Paris): custa 8 euros, é uma canseira, e você sobe lá em cima e o que mais vê é poluição. Talvez à noite seja legal, fomos de dia. Mas li em algum lugar na internet que subir na Torre Eiffel é mais armadilha ainda, não fomos. Atenção com os pickpockets!

2) Museu Vaticano (Vaticano): se você vai até lá sem o intuito religioso (que era nosso caso), só para ver a Capela Sistina, bem, prepare-se. Do metrô até o museu são milhares de ofertas de passeios guiados e o escambau. E chegando lá, as informações não são nada precisas: onde comprar, que fila entrar. Além disso, para subir na cúpula da basílica você paga 5 euros (se você quiser carona de elevador na primeira parte, mais dois euros - e 300 degraus a mais para subir), para ir no museu outro  ingresso (16 euros - caríssimo). O museu em si tem um monte de coisa bacana, mas é meio desorganizado, muitas obras sem referência, por exemplo. Outro problema: é abarrotado, e abarrotado pelos malditos passeios guiados que se aglomeram pelos corredores. E como o museu é meio um labirinto, você precisa passar por isso para chegar até a obra mais importante, a capela. Quase chorei vendo ela, e acho que valeu a pena, mas não é um passeio agradável propriamente: você precisa superar os obstáculos.

3) Museu Delacroix (Paris):


Ah, "A liberdade guiando o povo", o mais famoso quadro do Delacroix, que faz parte de todo um imaginário sobre França, romantismo... não está no museu (e nem em Paris, está em Lens, no norte). Mas ok ela não estar lá, ele tem outras obras, certo? Tem, mas juro para vocês que tem meia dúzia, mais ou menos duas salas com alguns quadros e objetos pessoais. Além disso, o folder reforça a presença de um "lindo jardim romântico". Fomos lá em setembro e o jardim não tinha nem flor... Era mais romântico ter comido um baguete nos jardins de Luxemburgo - adoro!

4) Visitas guiadas

Paris é cheia de turistas mesmo. Os parisienses não costumam ter muita paciência com eles - e às vezes nem com a gente. E com tanto turista, é inevitável que tenham os tenebrosos passeios guiados. Tenho pavor deles! Eu e o Fernando comentamos já que para muita gente é importante, pois com pouco tempo, ou pouco conhecimento acerca do lugar que você tá visitando, um guia pode ajudar muito. Mas ainda assim, tenho pânico dos guias e de seus discursinhos ensaiados. Como a visita deles é super programada, há pouco espaço para você olhar com mais atenção alguma obra que te chamou atenção, ou um lugar que tu tem mais dúvidas. Se você não está sozinho dando uma de turista, a minha dica é ficar atento nos mapas e guias de internet, ir no museu e tentar comentar com a outra pessoa para que vocês possam registrar as coisas. O guia é um profissional que acaba fazendo sempre o mesmo roteiro e sempre da mesma forma. Você não precisa transformar seu passeio num exercício fordista de turismo, né?

Ainda temos algum tempinho por aqui, certo que outras tourist trap virão. Mas a gente segue aqui, desviando das buchas mais temerárias.

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