Bom, que Paris é cheia
de museus todo mundo já sabe. Pela quantidade de museus, do Louvre ao Museu dos
Correios (!), poderíamos ficar meses nesse périplo. Mas, como em quase todos se
paga para entrar e em alguns não temos tanto interesse assim, decidimos comprar
um passe, o “Paris Museum Pass”, que nos dá acesso a cerca de 60 museus em 6
dias e nos daria uma super economia no final do passeio, além de nos ajudar a objetivá-lo. Primeiro: esse passe
pode ser comprado para 2 (46 euros), 4 (52 euros) e/ou 6 dias (69 euros). Segundo:
ele só vale a pena economicamente se você conseguir visitar 2 museus/monumentos
por dia, em média. Adendo: o passe funciona mais ou menos na base da confiança. Como? Você coloca, no verso do passe, a data que começou a utilizar. Ou seja, você é o responsável por esse controle. Em alguns museus eles até utilizam um leitor de barras, mas em outros é só uma olhadinha mesmo.
Pesquisamos bastante na
internet e fizemos várias contas para ver o quão econômico ele poderia ser.
Depois de acertada a compra, nos preparamos fisicamente e metodologicamente
para a maratona, fazendo um planejamento que cobria 14 museus em 6 dias
(incluindo aqui monumentos como o Arco do Triunfo e o Museu Guimet, que já
havíamos ido, mas sem conseguir ver a coleção de Japão e China em função do
horário). Deixamos assim de fora o Louvre, que merece uma atenção toda especial, e fizemos um combinado de museus de portes diferentes
para cada dia.
E valeu a pena? Bem,
pensando em valores foi ótimo. Somando nós dois economizamos cerca de 89 euros.
Outro ponto positivo é que o passe evita frustrações. Explico: por exemplo, fomos
no Museu Cluny e não gostamos muito. Se tivéssemos pagado os 8 euros na
entrada, sairíamos dele desolados, mas como já havíamos pagado o passe, tudo
ficou numa boa (mentiras sinceras, às vezes, me interessam). Outra vantagem é
que você pode conhecer museus que você não teria maiores interesses. A
desvantagem? Fadiga física e mental! Mas se você está afim de economizar uma
grana e tem fôlego para maratonas, é uma boa alternativa.
Mas vamos a ela, a maratona:
Dia 1: Começamos o tour
na quarta-feira, com a Saint Chapelle,
uma capela gótica do século XIII. Ela é bem pequenina e famosa pelos seus
vitrais. Confesso que ao subir a pequena escada que liga a parte inferior com a
superior e ver os vitrais até me emocionei, achei demais mesmo. Além disso,
como ela é pequena, não havia muitos turistas lá dentro, sendo assim um
ambiente menos opressor do que muitos pontos turísticos da cidade. Recomendo
muito.
Depois da capela, fomos
para o Musée de l’Oragerie, que se localiza em
frente a Place de La Concorde e dentro do Jardim das Tulherias .
O museu em si é pequeno, por isso um pouco muvucado, mas poder ver Monet,
Cézanne, Matisse e companhia assim, ao alcance das mãos (ne pas toucher!), é um privilégio. Além
disso, ainda temos réplicas de Rodins pelo pátio do museu, incluindo o famoso
“Beijo”. E depois disso tudo ainda dá para comer um baguete no jardim, que é muito gracinha. Nem preciso dizer que recomendo.
Rodins no pátio do Musée de l'Orangerie |
Como terminamos as
visitas relativamente cedo, tanto a capela quanto o museu eram pequenos, acabamos indo ao Museu Guimet de novo (havíamos ido no primeiro domingo do mês, quando muitos museus são de
graça). Bem, o Guimet é um museu de arte asiática, bem na pegada imperialista
de sempre que nos leva àquela perguntinha incômoda: como tudo isso veio parar
aqui? Ele é bem organizado (falo isso porque visitamos um museu em especial que
parecia não ter método algum, falarei disso logo), amplo e tudo mais, mas é
meio monótono: os itens estão ali expostos como algo exótico a ser admirado (o
que acontece também no Quai Branly,
mas esse confesso que gostei mais).
Museu Guimet |
Dia 2: No segundo dia,
começamos pela famosa Catedral de Notre Dame.
Bom, que ela é exuberante no seu exterior dá para ver pelo Google Images, mas, repleta
de turistas, ela pode ser uma pouco desagradável. Explico: com hordas e hordas de
turistas sedentos por fotos/selfies, o monumento histórico fica em um segundo
plano no qual ele parece perder a razão de ser. Além da visita à catedral, que
é gratuita, há também a visita à cripta, que é paga. Para os amantes da
arqueologia é uma pedida.
Após, fomos ao Memorial da Shoah, que é gratuito, mas
foi indicado a nós e era no caminho dos museus daquele dia. Na esquina do
memorial, uma escola relembra os judeus franceses mortos durante a II GM,
especialmente as crianças, muitas das quais eram alunas daquele colégio. De
entrada no museu, um muro com os nomes de judeus franceses mortos durante a II
GM. Lá dentro, muito bem organizado, uma série de fotos, vídeos e itens dessas
vítimas, incluindo uma sala com fotos somente das crianças. Como amostra
especial, o genocídio em Ruanda dos anos 90. A sala é pequena em comparação com
o restante do museu, mas tem uma força avassaladora: além de fotos e vídeos,
estão expostas roupas, sapatos e armas encontradas nos massacres. Para os de
coração forte. E acho que esse é um dos
grandes méritos desse memorial: ele materializa o seu homenageado de uma forma
que é impossível não sair de lá emocionado. Recomendo.
Depois do memorial, uma
visita ao Museu da Arte e História do Judaísmo.
Aqui, um estilo de museu mais tradicional, naquele estilo “admire-me ”, contando
a história da comunidade ao longo do tempo naquele tom celebratório. E, como
desfecho, a formação do Estado de Israel e todo o apagamento das tensões
presentes. A parte mais interessante do museu, para mim, uma filha das Letras,
são as inúmeras menções a Alfred Dreyfus (Caso Dreyfus), sempre lembrado por
nós via Émile Zola e seu artigo, “J’acuse”.
Dia 3: No terceiro dia,
havíamos nos programado para ir ao Centro Pompidou e Arco do Triunfo (especificamente subir no Arco), mas o primeiro mostrou-se
avassalador demais: ficamos horas lá dentro. O Pompidou é o museu de arte
moderna daqui, localizado em um prédio moderno (nada daqueles museus em prédios
históricos e antiquíssimos) com exposições, livraria, biblioteca, café, restaurante,
vista gracinha de Paris, etc. e tal. Além disso, o que é comum aqui, tem uma
exposição temporária, a qual não temos acesso com o Paris Museum Pass, mas
podemos ver todo o restante, é claro, começando por uma “História da Arte,
Arquitetura, Design, dos anos 1980 a nossos dias” e terminando com o “Modernidades
Plurais: arte moderna de 1905 até 1980”. Neste, você tem praticamente uma aula
de história da arte tamanha a organização do museu enquanto vê Matisse,
Kandisky, Miró, Picasso, Tarsila, Di Cavalcanti e companhia. Outro ponto
positivo é que o museu não é dos mais lotados, assim você pode até admirar com
calma os trabalhos expostos, o que é um luxo por aqui. Além disso, você sai dali e está em um região cheia de cafés, artistas de rua, hippies "vendendo sua arte" e, claro, o Marais, famoso bairro da capital francesa.
Vista do Pompidou |
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