Estávamos no museu de arte moderna
da França, o Centre Pompidou, quando de repente eu vi: estava ali, numa ala
sobre futurismo russo, a escultura de Vladmir Tatlin. Era um modelo, claro. A
original nunca foi feita: a ideia era construir uma torre de aço ainda maior
que a Torre Eifel. O título da obra? “Monumento à terceira internacional”.
A Juliane, por sua vez, teve seu
encontro numa ala específica sobre a antropofagia e Tarsila do Amaral. Com o
“Manifesto Antropofágico” na parede e obras da própria Tarsila, além de obras
do Di Cavalcanti, ali foi um daqueles momentos em que eu me senti meio vira
lata: feliz de ser reconhecido pelos gringos.
Esses dois momentos talvez tenham
sido os mais emocionantes encontros com a modernidade que tivemos em Paris até
agora.
Na capital francesa se vive a modernidade
constante do início do século XX. Ao perambular por alguns bairros mais
turísticos, temos a impressão de que estamos na Belle Époque e que cada saída
de metrô é como se fosse uma espécie de túnel do tempo. Esses encontros com a
modernidade ocorrem o tempo todo, como se fossemos constantemente transportados
para o passado glorioso da cidade.
É a glória – e não as revoltas, as
greves e as revoluções – que a cidade celebra. E a glória parisiense é viver o
passado sempre. É interessante isso, porque já ouvimos pessoas cansadas do fato
de que, em Paris, a paisagem é sempre a mesma. Linda, mas com essa perspectiva
de que tudo é um constante monumento. Em dado momento você não distingue mais
uma rua qualquer de um local histórico, ou de um nome de rua e de uma homenagem
póstuma. Essa falta de distinção pode ser cansativa, mas ao meu ver ela é muito
mais vertiginosa – a rua que você pisa tem um significado passado que não é
possível ignorar.
Talvez por isso seja verdade que se
diga que respiramos história em Paris – embora também respiremos bastante
poluição nos últimos dias. Mas é uma história bastante singela, quase que
incompleta. Onde estão os monumentos aos pobres? Aos “construtores da Tebas de
sete portas”, como diz o poema de Brecht? Os nossos encontros com o lado mais
caótico da modernidade parecem estar nos museus, reservados para os olhares de
quem tiver disposição de encarar todos os espaços e acervos
históricos/artísticos da cidade. Nos encantamos com Talin e com Tarsila porque,
em certo sentido, foram momentos em que vimos algo de celebratório no que a modernidade
tem de mais legal que é a possibilidade de transformação social e intelectual.
A zuera, que é filha da
modernidade, não costuma aparecer muito nas ruas bonitinhas e charmosas de
Paris.
[para ler o poema do Brecht, clique
aqui]
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