Escrevi recentemente um texto sobre o colonialismo francês e
como ele estava apagado do museu do Quai Branly, que visitamos no domingo. Mas
aí nos demos conta: não é só do museu que essa herança imperialista está
escondida. Um bom lugar para ver um cadinho do império colonial francês pode
ser visto nos supermercados e mercados de bairro de Paris.
Deixa eu explicar: ao contrário do Brasil, em qualquer
vendinha francesa os produtos têm uma designação de preço/quilo, mas também da
origem do produto. O leitor e a leitora podem até se perguntar: tá, mas e daí?
Explico: a França tem algumas áreas rurais e uma parte dos hortifrúti são
dessas regiões (principalmente as bandas lá de Auvergne, no centro-sul
francês). Mas a maioria dos produtos vem de diferentes partes da Europa e do
mundo.
Para ilustrar meu ponto, numa rápida ida ao supermercado,
você pode encontrar:
·
Bananas da Etiópia
·
Laranjas da Espanha
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Abacaxis da Costa Rica
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Lentilhas do Marrocos
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Tomates do Marrocos
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Figos da África do Sul
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Cebolas da Argentina
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Mangas da Costa do Marfim
A lista segue e posso ir atualizando mais e mais para quem tiver
interesse. Dá para dizer que alguns desses produtos fazem parte de regiões que
nem sequer foram colonizados pela França – o que é verdade. Mas o mais
interessante, contudo, não é nem tanto a região (afinal, a globalização tá tão in que chega a ser ‘fora de moda’). Mas
o mais chocante é comparar preços mesmo. Os produtos são caros para os nossos
padrões, mas baratíssimos para o francês normal. Imagine você, cidadão
brasileiro comprando laranjas de Valencia, o quanto isso não ia lhe custar! O
mesmo poderia se dizer de qualquer outro produto. Mas como “nessa terra,
plantando tudo dá” a gente nem precisa recorrer aos hortifrúti das diferentes
partes do mundo. Já na França, onde o verão é tipo um raio de sol que ilumina
as cidades por duas semanas, o bicho pega e para compensar a falta de produtos,
o colonialismo é uma alternativa.
Uma prova disso é exatamente saber como é caro o que é
produzido numa vendinha, ou numa feira de produtos tipicamente franceses. O
tomate francês custa a mesma coisa que o do Marrocos. Aparentemente é a mesma
coisa...mas o francês tem época a ser consumido, enquanto o marroquino pode ser
facilmente trocado por outros (eu vi por aqui alguns belgas também).
A Juliane disse que tem algo de positivo nisso. A gente
acaba vendo a origem do produto e pode escolher se quer comprar, ou não. Tendo
a concordar com ela, a ideia realmente permite conceber um consumo mais consciente
(o que é bom). Mas por outro lado, se você não quiser consumir o produto mais
barato (!!!), de melhor qualidade (!!!!!) e que tem o ano todo (!!1!1!!onze!!)...
bem, o azar é teu. E esse é o problema: esses produtos continuarão a ser trazidos
por preços baixíssimos para o bolso do consumidor francês – e não tão baixos
para o consumidor brasileiro morando na França.
A parte mais zuera disso é que talvez ninguém ache que isso
é “colonialismo”, não. É só o bom e velho livre-mercado agindo e operando. Isso
rola no Zaffari, no Nacional, no Pão de Açúcar...e ninguém fala nada. Mas
talvez esse seja o problema: uma ida num supermercado francês pode abrir olhos
sobre duas coisas: sobre o colonialismo francês e sobre a sociedade de consumo
brazuca.
Que maravilha esse texto, Fê!!!1!!11!!
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