Comer bem em Paris tem sido
relativamente fácil. Os congelados não costumam ser caros e os produtos são
frescos. Carne é um mundo à parte – a variedade encanta, mas o preço repele.
Mas comer mal, aí sim é que entra o desafio!
Junk food (ou, no popular gauchês,
“morte lenta”) é fácil de encontrar se você for naqueles grandes conglomerados
como KFC, McDonald’s e Subway. Mas essa é a junk food padronizada, sem gosto e
sem graça que existe em qualquer lugar do mundo. O Subway daqui tem o mesmo
fedor que o de Porto Alegre e, apesar do McDonald’s se proclamar “McCafé”, a
birosca é a mesma. Por um lado é bom, porque quem aprecia esse tipo de “comida”
em Porto Alegre, vai achar seu correspondente em solo francês – maravilhas da globalização.
Mas quem tem um pouco mais de discernimento ou paladar, não vai pagar 3 euros
por um sanduíche do Subway quando é possível comprar, pelo mesmo preço, um
baguete quentinho, um pedaço de queijo emmenthal
e um presunto espanhol defumado. A Juliane propõe inclusive que quem vem para
Paris e come no Subway seja julgado pelo Tribunal de Haia por atentado
lesa-humanidade. Acho meio forte...
De minha parte, ando interessado
nos“mortes lentas” raiz, aqueles que são preparados sem as menores condições de
higiene (o que é fácil de conseguir aqui) ou respeito às normas sociais. Até
agora provei três dessas iguarias típicas da comida de rua sem glamour e vou
aqui dar o meu veredito:
Kebab: O mais comum “morte lenta”
aqui, substituindo o tradicional “xis” gaúcho, o kebab é um espeto – geralmente
de cordeiro – que assa lentamente numa dessas televisões de cachorro (mas ele
assa na vertical, ao contrário do frango que assa na horizontal). No Brasil a
gente chama isso de churrasquinho grego, embora ele seja extremamente
multiétnico. Aqui você encontra kebab turco, kebab grego, kebab libanês e kebab
do Magreb. Comemos, na primeira vez que fomos no 11éme, um que saiu por 10
euros para nós dois – a Juliane comeu um de frango, tendo em vista que ela não
gosta de ovelha. A maior dificuldade? Pedir um kebab sem pimentão, ingrediente
adorado pela comunidade árabe-francesa e detestado por nós. No geral, eles são
bem caprichados, acompanhados de um molho indistinguível branco, uma salada e
muita carne. Alguns dos kebab parisienses são tão famosos que extrapolam o preço.
Lá no bairro do Marais, tem um que é considerado o melhor da França e custa
absurdos 8 euros o mais barato. Um dia a gente vai lá. Veredito final: é bom,
mas falta um ovo frito dentro.
Panini: Não tão comum quanto o
kebab, mas tem seu valor. O panini nada mais é do que um sanduíche de baguete
recheado com carne, salada e molho. Alguns mais caprichados podem ter até três
bifes de hambúrguer, presunto, ovo e queijo – fazendo assim a festa da
proteína. Eles podem acabar sendo mais caros que o kebab, dada a quantidade de
carne que você quer no sanduíche. Porém, nos casos em que apelamos para o
panini, não nos decepcionamos – além de caprichados no recheio, eles eram
acompanhados de generosas porções de batata frita. O lado negativo, se é que dá
para chamar assim, é que as batatas são acompanhadas por molhos prontos que
ficam ao gosto do cliente e a variedade desses molhos é assustadora. No 13éme,
a Juliane pediu um que era “picante” e tinha um sabor que lembrava uma mistura
de detergente com malagueta. Eu, por outro lado, pedi um molho argelino e que
tinha o sabor de quatro tipos de pimentões diferentes. Em média, um panini
reforçado numa área mais alternativa pode sair por 6, 7 euros no máximo.
Veredito final: faz a festa da proteína, mas é bom ficar só com a maionese como
opção de molho.
Crepe: É estranho imaginar o
crepe francês como “morte lenta”, mas ele é.
Os crepes são preparados na hora, com uma massa que se assemelha a de
panqueca e numa chapa redonda grande. No meio, o recheio de sua escolha. Embora
as opções de recheio sejam bem menos variadas do que a de um saboroso crepe de
Capão da Canoa, elas são caprichadas. Queijo e presunto, queijo e linguiça,
queijo e frango...e por aí vai. A maioria dos lugares anuncia crepes doces, com
Nuttella e tudo, para a alegria dos diabéticos. O tamanho é impressionante e
chega a ser difícil de comer um inteiro sem ficar estufado. A massa, diga-se de
passagem, é deliciosa e se o recheio nem tanto, não dá para reclamar: a
quantidade é absurda e bem menos condimentado que outros “mortes lentas”.
Veredito final: foi o de pior digestão entre os três, mas sem dúvida o mais
impressionante em tamanho. Além disso, é o único que não conta com a presença de
qualquer pimentão existente acima (ou abaixo) do Equador. E, segundo a Juliane,
é o mais gostoso. Meu trato intestinal não concorda 100% com a afirmação, mas
dou o braço a torcer: em termos de custo-benefício, tá no topo dos “mortes
lentas” parisienses.
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