Para ler com a trilha sonora de "Aventureiros do Bairro Proibido"...
Uma das ruas mais descoladinhas de Paris é a Rue Faubourg Saint-Denis. A gente foi conhecer ela ontem, graças a um post do excelente blog, Paris Lado B - que vira e mexe nos ajuda a nos locomover nas indiadas parisienses. O problema é que a gente pegou um caminho errado perto da Gare du Nord e quando vimos, fomos entrar numa Faubourg Saint-Denis que não é aquela descrita no modo de vida alternativo parisiense.
Na verdade, essa rua atravessa três bairros: o 3e, o 10e e o 18e. Ali por volta da boulevard Magenta, contudo, é que o bicho pega. Já falamos antes que a cidade de Paris é cheia de imigrantes e que em alguns bairros, como o 10e, o 11e, o 19e e o 20e meio que se misturam cultura alternativa e essa cultura imigrante. Entrecruzam-se um monte de narrativas, mas que geralmente parecem cair ou no imigrante africano, ou no imigrante árabe. Mas ontem, andando no lado "oriental" da Faubourg, vimos que a rua é também um centro da cultura indiana na França!
Uma cultura indiana, claro, com peculiaridades. Uma imensa quantidade de açougues halal (que são os açougues para carnes abatidas com a supervisão de um sacerdote islâmico) e os inúmeros restaurantes com temática paquistanesa e bangladeshiana indicam que é uma visão mais islamizada da cultura indiana que encontramos ali. Mas vou guiar vocês por essa parte - e no próximo post, a Juliane vai guiar vocês para a parte mais boêmia.
No início, ela parecia ser só uma rua normal, com alguns fast food indicando o "verdadeiro sabor do oriente". Alguns metros adiante da Gare du Nord chegamos a sentar num café para tomar uma cerveja e o dono nos atendeu com sorrisos e gentilezas - sinal de que ele não era lá muito parisiense. A bebida com preço honesto nos fez seguir o caminho, esperançosos de que estávamos na tal parte boêmia; as lojas de roupas dizendo "o melhor de Bollywood" indicavam o contrário.
Pouco a pouco, nos deparamos com um bombardeio de cultura indiana. Uma cultura, de certa forma, levada ao extremo para marcar a posição dos imigrantes do bairro. Pimentas, que até então não encontrávamos, praticamente brotavam dos mercadinhos da rua. Os cheiros de temperos ocupavam boa parte do olfato. As lojas de vestido eram tão deslumbrantes que até agora não sabemos se eles eram feios ou bonitos. Cardápios e vitrines escritos em sânscrito, árabe e até em inglês. De vez em quando aparecia algo escrito em francês. Ainda estávamos em Paris?
Há que se salientar que essa é uma zona de imigração e, como era de se esperar, ela é mais pobre do que as regiões mais centrais. Consequentemente, há mais pobreza na rua, ainda que não se veja tanta miséria - não vimos moradores de rua, por exemplo. Por outro lado, quando paramos no café para tomar a sagrada cervejinha, a Juliane reparou que enquanto o bairro era tomado por indianos, as mulheres mesmo não ocupavam as ruas. As mulheres que passavam por nós geralmente eram brancas, tipicamente parisienses, ou turistas perdidas ali. Ficamos em dúvida o quanto essa cultura de imigrantes indianos em Paris não tinha também suas sutilezas em termos de sexismo. Em todos os bares/cafés pelos quais passamos, por exemplo, somente homens ocupavam as mesas.
Mercadinho indiano e cingalês |
O mais legal desse passeio, claro, foi encontrar essa gama de culturas perdidas na selva de pedra que é Paris. Eles não fazem parte de nenhuma narrativa normal sobre a cidade (que destaca somente a imigração africana ou árabe), mas sim de algo que até então não sabíamos que existia: uma zona de imigrantes de origem indiana (e paquistanesa, e nepalesa, e bangladeshiana e até cingalesa - que é quem vem do Sri Lanka). Isso, sem dúvida, faz de uma capital como Paris realmente cosmopolitaine, como eles gostam de dizer.
Bollywood hindu dvd |
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