(para ler ao som de Lá vem o Brasil, descendo a ladeira)
Esse ainda é um blog sobre
zueira. Um blog sobre brasileiros – que nasceram com a zueira no DNA – que
estão no coração do mundo e têm que lidar com o fato de que aqui a zueira é
coisa de selvagem, de bárbaro, ou (pior ainda) de Zé Povinho. Mas azar deles,
porque a gente queria deixar também uma homenagem ao Orkut ("um beijo, Orkut,
onde quer que você esteja"). E a ideia é muito simples, caros e caras leitores:
mostrar porque o Orkut não tinha mesmo como funcionar com os franceses.
Primeiro: o mais óbvio, né? Falta
zueira por aqui. Um francês nunca entraria numa comunidade “Anão vestido de
palhaço mata oito”. Não é nem que eles não tenham senso de humor, mas quem
lembra da comunidade sabe que ela se destinava a uma coletânea de manchetes
bizarras de jornais e internet (como, por exemplo a que coroava a comunidade
com a foto: “Búfalo mantém família refém por 8 horas”). Ainda não vimos nada
que se parecesse com nossos jornais populares aqui. Os jornais são sérios. A
política é séria. Até os programas de humor parecem sérios. E com tanta
seriedade, como eles conseguiriam manchetes escabrosas e bizarras para o
divertimento e procrastinação geral? (para mais comunidades, clique aqui)
Segundo: o pessoal aqui é muito direto
em suas colocações.
- Pardon, monsieur. Excuse-moi...s’il vous
plait, vous parlez anglais ? Mon français n’est pas très bon et…
- Non.
Ou seja, aqueles tópicos gigantescos
do saudoso Orkut, com discussões infindáveis, não vingariam aqui. Existe um
senso de objetividade entre os franceses que não importa qual pergunta a gente
faça para as pessoas, as respostas são sempre muito diretas. Em certo momento,
pensamos que isso era uma falta de gentileza, ou até mesmo uma grosseria. Até
pode ser, mas a verdade é que eles não veem porque serem prolixos. Exceto na
escrita.
Terceiro: eles não escutaram o
pior (e o melhor) da música brasileira dos anos 90. Comunidades como “Tô
fazendo amor com 8 pessoas”, “Drogas alternativas”, “Adoro Pepê e Neném”, “Pareço
legal, mas sou pagodeiro”, “Não sei individualizar duplas” e tantas outras que
remetem aos traumas auditivos sofridos por uma geração inteira (para mais comunidades, clique aqui).
Quarto: eles são excessivamente
honestos. Sim, eles constantemente alertam para os pickpockets no metrô – o nosso popular “batedor de carteira”. Mas
também! Essa gente anda com bolsa e mochila aberta o tempo todo, deixa elas nas
mesas dos cafés enquanto vão ao banheiro, saem e deixam o pagamento em cima da
mesa, sem conferir se o garçom pegou ou não... A gente fica pasmo! E aí a
dúvida: como essa gente seria capaz de fazer um fake no Orkut? Fake, pra
quem não lembra, era um perfil falso que as pessoas faziam para dar uma olhada
naquele gatinho sem ele saber que você tava olhando ele. Ou algo assim. Alguns
faziam os fake só por zueira mesmo,
fazendo perfis de artistas, celebridades e até mesmo de amigos que já tinham
perfil no Orkut. Claro que se você estivesse incomodado com algum fake, você podia clicar na opção “report as bogus”. Assim, o perfil falso
era denunciado e avaliado por uma equipe de especialistas – e enquanto isso, a
foto do perfil virava uma sombra atrás das grades. Muito bom gosto!
Quinto: eles não dariam valor a
mecanismos sensacionais como os “depoimentos”. Além de objetivos, os franceses
parecem não gostar dessas declarações públicas de afeto. Até agora, uma das
coisas mais divertidas a se fazer num supermercado parisiense é tocar o braço
de um nativo e ver a sua reação. Eles ficam realmente desconcertados! Toque
físico, mesmo que seja um tapinha nas costas, é coisa de selvagem! Sendo assim,
é claro que eles não gostariam de compartilhar publicamente um depoimento de
2048 caracteres sobre uma pessoa. É exposição demais, gente!
Sexto: O sistema do Orkut em ranquear
as pessoas por categorias como “sexy”, “cool” e “confiável” não vingaria nunca
numa sociedade onde as coisas não parecem ter tons de cinza. A ideia de que
alguém seria 90% sexy, 70% legal e 80% confiável não passa pela cabeça dos
franceses. Ao que tudo indica, aqui ou a pessoa seria 0%, ou seria 100%.
Sétimo: Talvez os franceses se
adaptassem aos scraps, que era uma
forma de comunicação rápida e direta pelo Orkut. Mas eles certamente não se
adaptariam aos milhares de gifs que poluíam visualmente o Orkut. Aqui, a
cafonice para ser aceita tem que ser pelo menos de dois séculos atrás. Gifs com
animais da Disney, música, corações, fogos de artifício...tudo isso os
franceses repudiariam com aquele olhar blasé
tão típico.
Oitavo: Procrastinação não é a
ordem do dia. Aqui se trabalha menos que o Brasil, é verdade, mas os franceses
parecem pouco adeptos ao sentimento macunaímico do “ai, que preguiça!”.
Comunidades como “Não fui eu, foi meu eu lírico”, “Niilismo miguxo”, “Grávida
de Luís Carlos Prestes”, “Lenin de três”, “Odeio contaminação por lítio” não
teriam apelo nenhum. Eles nunca perderiam tempo com isso quando poderiam ir a
um café, ler um livro, ou simplesmente ver o movimento passar.
(A Juliane sugeriu um título
alternativo para esse post: "Porque o Orkut funcionou tão bem entre os
brasileiros..." - apostem suas fichas!)
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